Antes de tudo é necessária à penitência interior, isto é, o arrependimento e a purificação dos próprios pecados, o que especialmente se obtém com uma boa confissão e comunhão, e com a assistência ao sacrifício eucarístico. A este gênero de penitência deverão ser convidados todos os fiéis durante a novena ao Espírito Santo. Vãs seriam, com efeito, as obras exteriores de penitência se não fossem acompanhadas da limpeza interior da alma e do sincero arrependimento dos próprios pecados. Neste sentido deve-se entender o severo aviso de Jesus: “Se não fizerdes penitência, todos igualmente perecereis” (Lc 13, 5). Afaste Deus este perigo de todos aqueles que nos foram confiados!

Além disto, devem os fiéis ser convidados também à penitência exterior, quer para sujeitarem o corpo ao comando da reta razão e da fé, quer para expiarem as suas culpas e as dos outros. Com efeito, o próprio São Paulo, que subira ao terceiro céu e atingira as culminâncias da santidade, não hesita em armar de si mesmo: “Mortifico o meu corpo e mantenho-o em servidão” (1Cor9, 27); e alhures adverte: “Os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com suas paixões e seus desejos” (Gl 5, 24). E desta maneira santo Agostinho insiste nessas mesmas recomendações: “Não basta melhorar a própria conduta e deixar de fazer o mal, se também não se dá satisfação a Deus pelas culpas cometidas, por meio da dor da penitência, dos gemidos da humildade, do sacrifício do coração contrito, juntamente com as esmolas”. (Serm. 351, 5,12: PL 39,1549).

A primeira penitência exterior que todos devemos fazer é a de, com ânimo resignado e confiante, aceitarmos de Deus todas as dores e sofrimentos que se nos deparam na vida, e tudo o que importa fadiga e incômodo no exato cumprimento das obrigações do nosso estado, no nosso trabalho cotidiano e no exercício das virtudes cristãs. Esta penitência necessária não somente vale para nos purificar, para nos tornar propício o Senhor e para impetrar o seu auxílio para o feliz e frutuoso êxito do próximo concílio ecumênico, como também torna mais leves e quase suaves as nossas penas, pondo diante de nós a esperança do prêmio eterno: “Os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós” (Rm 8, 18).

Fonte: Parte da Carta Encíclica Paenitentiam Agere de São João XXIII