Não é um exagero dizer-se que toda a existência do fiel leigo tem por finalidade levá-lo a descobrir a radical novidade cristã que promana do Batismo, sacramento da fé, a fim de poder viver as suas exigências segundo a vocação que recebeu de Deus. Para descrever a figura do fiel leigo, vamos agora considerar de forma explícita e mais direta, entre outros, estes três aspectos fundamentais: o Batismo regenera-nos para a vida dos filhos de Deus, une-nos a Jesus Cristo e ao Seu Corpo que é a Igreja, unge-nos no Espírito Santo, constituindo-nos templos espirituais.
Filhos no Filho
Com o santo Batismo tornamo-nos filhos de Deus no Seu Unigênito Filho, Jesus Cristo. Ao sair das águas da sagrada fonte, todo o cristão ouve de novo aquela voz que um dia se fez ouvir nas margens do rio Jordão: “Tu és o Meu Filho muito amado, em Ti pus todo o Meu enlevo” (Lc 3, 22), e compreende ter sido associado ao Filho predileto, tornando-se filho de adoção (cf. Gal 4, 4-7) e irmão de Cristo. Realiza-se, assim, na história de cada um o desígnio eterno do Pai: ”Aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem do Seu Filho, a fim de que Este seja o Primogênito de muitos irmãos” (Rom 8, 29).
É o Espírito Santo que constitui os batizados em filhos de Deus e, ao mesmo tempo, membros do corpo de Cristo. Paulo recorda-o aos cristãos de Corinto: ”Foi num só Espírito que todos nós fomos batizados, a fim de formarmos um só corpo” (1 Cor 12, 13), de forma que o apóstolo pode dizer aos fiéis leigos: ”Sois agora corpo de Cristo e Seus membros, cada um na parte que lhe toca” (1Cor 12, 27); ”Que vós sois filhos prova-o o fato que Deus mandou aos nossos corações o Espírito do Seu Filho” (Gal 4, 6; cf. Rom 8, 15-16).
Um só corpo em Cristo
Regenerados como “filhos no Filho”, os batizados são inseparavelmente “membros de Cristo e membros do corpo da Igreja”, como ensina o Concílio de Florença.
O Batismo significa e realiza uma incorporação, mística mas real, no corpo crucificado e glorioso de Jesus. Através do sacramento Jesus une o batizado à Sua morte para uni-lo à Sua ressurreição (Rom 6, 3-5), despoja-o do “homem velho” e reveste-o do “homem novo”, isto é, de Si mesmo: “Todos os que fostes batizados em Cristo — proclama o apóstolo Paulo — vos revestistes de Cristo” (Gal 3, 27; cf. Ef 4, 22-24; Col 3, 9-10). Daí resulta que “nós, embora sendo muitos, constituímos um só corpo em Cristo” (Rm 12, 5).
Reencontramos nas palavras de Paulo o eco fiel da doutrina do próprio Jesus, que revelou a unidade misteriosa dos Seus discípulos com Ele e entre si, apresentando-a como imagem e prolongamento daquela arcana comunhão que une o Pai ao Filho e o Filho ao Pai no vínculo amoroso do Espírito (cf. Jo 17, 21). Trata-se da mesma unidade de que fala Jesus quando usa a imagem da videira e das vides: “Eu sou a videira, vós as vides” (Jo 15, 5), uma imagem que ilumina, não apenas a profunda intimidade dos discípulos com Jesus, mas também a comunhão vital dos discípulos entre si: todos eles vides da única Videira.
Templos vivos e santos do Espírito
Usando uma outra imagem, a do edifício, o apóstolo Pedro define os baptizados como “pedras vivas”edificadas sobre Cristo, a “pedra angular”, e destinadas à “construção de um edifício espiritual” (1 Ped2, 4 ss.). A imagem introduz-nos num outro aspecto da novidade batismal, e que o Concílio Vaticano II assim apresenta: “Pela regeneração e pela unção do Espírito Santo, os batizados são consagrados para serem uma morada espiritual”.
O Espírito Santo “unge” o batizado, imprime-lhe a Sua marca indelével (cf. 2 Cor 1, 21-22) e faz dele templo espiritual, isto é, enche-o com a santa presença de Deus, graças à união e à conformação com Jesus Cristo.
Com esta espiritual “unção”, o cristão pode, por sua vez, repetir as palavras de Jesus: “O Espírito do Senhor está sobre mim: por isso, me ungiu e me enviou para anunciar a Boa Nova aos pobres, para proclamar a libertação aos cativos, e aos cegos o recobrar da vista, para mandar em liberdade os oprimidos e proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc 4, 18-19; Is 61, 1-2). Assim, com a efusão batismal e crismal o baptizado torna-se participante na mesma missão de Jesus Cristo, o Messias Salvador.
Fonte: Parte da Exortação Apostólica Pós-Sinodal CHRISTIFIDELES LAICI de São João Paulo II, sobre a vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo. CAPITULO I,10-13.