No Evangelho, a palavra que os Anjos, na Noite santa, disseram aos pastores é a que a Igreja grita para nós na Noite de Natal: Nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é o Messias Senhor. Isto vos servirá de sinal: achareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura” (Lc 2,11ss). Nada de maravilhoso, nada de extraordinário, nada de magnífico é dado como sinal aos pastores. Verão só um menino envolto em panos que, como todos os meninos, precisa dos cuidados maternos; um menino que nasceu num estábulo e, por isso, não está deitado num berço, mas numa manjedoura.

Ver o Menino como o coração

O sinal de Deus é o menino carente de ajuda e pobre. Os pastores, somente com o coração, poderão ver que neste menino tornou-se realidade a promessa do profeta Isaías, que escutamos na primeira leitura: Um Menino nasceu para nós, um filho nos foi concedido. Tem o poder sobre os ombros” (Is 9,5). A nós também não e nos dado um sinal distinto. O anjo de Deus, mediante a mensagem do Evangelho, nos convida também a encaminhar-nos com o coração para ver o menino que jaz na manjedoura.

No sinal animais está toda a humanidade

Aos pastores foi dito que teriam encontrado o menino numa manjedoura para animais, que eram os verdadeiros habitantes do estábulo. Lendo Isaías (1,3) os Padres deduziram que junto à manjedoura de Belém estavam um boi e um asno. Interpretaram assim o texto no sentido de que haveria um símbolo dos judeus e dos pagãos – portanto, de toda a humanidade – que, uns e outros, necessitam, ao seu modo, de um salvador: daquele Deus que se fez menino.

No sinal da manjedoura jaz o alimento de nossas almas

O homem, para viver, precisa de pão, do fruto da terra e do seu trabalho. Mas não vive só de pão. Precisa de alimento para a sua alma: precisa de um sentido que encha a sua vida. Por isto, segundo os Padres, a manjedoura dos animais veio a ser o símbolo do altar, sobre o qual jaz o Pão que é o mesmo Cristo: o verdadeiro alimento para os nossos corações. Uma vez mais vemos como Ele se fez pequeno: na humilde aparência da hóstia, de um pedacinho de pão, Ele se nos doa si próprio.

Deus se fez pequeno

De tudo isto nos diz o sinal que foi dado aos pastores e que nos vem dado: o menino nos foi dado; o menino no qual Deus se fez pequeno por nós. Rezemos ao Senhor para que nos dê a graça de ver nesta noite o presépio com a simplicidade dos pastores, para receber assim a alegria com a qual eles voltam para casa (cf. Lc 2,20). Peçamos que nos dê a humildade e a fé com a qual São José contemplou o menino que Maria tinha concebido pelo Espírito Santo.
Peçamos que nos ajude a vê-Lo com aquele amor com que Maria o contemplava. E, assim, peçamos por que a luz que viram os pastores, também nos ilumine e que se cumpra em todo o mundo aquilo que os anjos cantaram naquela noite: Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens por Ele amados”.Amém.

Fonte: Parte da Homilia do Papa Emérito Bento XVI na ocasião da Solenidade do Natal do Senhor.  Domingo 24 de Dezembro de 2006.