A presente declaração propõe-se chamar a atenção dos fiéis, nas circunstâncias atuais, para certos erros e modos de proceder de que eles devem guardar-se. A virtude da castidade, porém, não se limita a evitar as faltas indicadas; ela tem ainda exigências positivas e mais elevadas. É uma virtude que marca toda a personalidade no seu comportamento, tanto interior como exterior.
Não despreze o mandamento de Deus
Certa vez um jovem aproximou-se de Jesus e perguntou: “Mestre, que hei-de fazer de bom para obter a vida eterna?” — Jesus respondeu: “Se queres entrar na vida eterna, observa os mandamentos …: não matar, não cometer adultério, não roubar, não levantar falso testemunho, honra pai e mãe e ama o próximo como a ti mesmo”(Mt 19,16ss). O jovem foi embora muito triste.
O homem, portanto, peca mortalmente, não só quando ás suas ações procedem do desprezo direto do amor de Deus e do próximo, mas também quando ele, consciente e livremente, faz a escolha de um objeto gravemente desordenado, seja qual for o motivo dessa sua eleição. Nessa escolha, de fato, está incluído o desprezo pelo mandamento divino: o homem aparta-se de Deus e perde a caridade. Ora bem: segundo a tradição cristã e a doutrina da Igreja, e conforme o reconhece também a reta razão, a ordem moral da sexualidade comporta para a vida humana valores tão elevados, que toda a violação direta da mesma ordem é objetivamente grave.
Paciência e bondade
Os pastores de almas, pois, devem dar mostras de paciência e de bondade; não lhes é permitido, porém, tornar vãos os mandamentos de Deus, nem reduzir desmedidamente a responsabilidade das pessoas: “Não minimizar em nada a doutrina salutar de Cristo é forma de caridade eminente para com as almas. Mas isso deve andar sempre acompanhado também da paciência e da bondade, de que o próprio Senhor deu o exemplo, ao tratar com os homens. Tendo vindo para salvar e não para julgar, Ele foi intransigente com o mal, mas misericordioso para com as pessoas”. [Paulo VI, Enc. Humanae Vitae, n. 29: AAS 60 (1968), p. 501].
O valor da Castidade
A castidade há-de distinguir as pessoas segundo os diferentes estados de vida: umas, na virgindade ou no celibato consagrado, maneira eminente de se dedicar mais facilmente só a Deus, com um coração não dividido; [Cfr. 1 Cor. 7, 7. 34; Conc. Ecum. de Trento, Sess. XXIV, can. 10: DS 1810; II Conc.]; outras, da maneira que determina para elas a lei moral, conforme forem casados ou celibatários. Entretanto, em todo e qualquer estado de vida a castidade não se reduz a uma atitude exterior; ela deve tornar puro o coração do homem, segundo aquelas palavras de Cristo: “Ouvistes o que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. Eu, porém, digo-vos: — todo aquele que olhar uma mulher com mau desejo, já cometeu adultério com ela em seu coração”. (Mt 5,28).
A castidade está incluída naquela “continência” que São Paulo menciona entre os dons do Espírito Santo, ao mesmo tempo que condena a luxúria como um vício particularmente indigno para o cristão e que exclui do Reino de Deus. “Esta é a vontade de Deus: que vos santifiqueis, que vos abstenhais da fornicação, que saiba cada um possuir o próprio corpo em santidade e em honra, sem se deixar levar por paixões desregradas, como fazem os gentios, que não conhecem a Deus; que ninguém nesta matéria use de fraude ou de violência para com o próprio irmão … Deus, de facto, não nos chamou a viver na impureza, mas na santidade. Quem despreza estes preceitos, portanto, não despreza um homem, mas aquele Deus que também difunde o seu Espírito Santo em vós”. (1 Tess. 4, 3-8; cfr. Col. 3, 5-7; 1 Tim. 1, 10).
A ofensa do pecado
A fornicação e qualquer outra impureza ou baixa cobiça não sejam sequer mencionadas entre vós, como é próprio dos santos … Porque, sabei-o bem, nenhum fornicador, ou impudico, ou avarento, que equivale a um idólatra, será herdeiro no reino de Cristo e de Deus. Que ninguém vos iluda com vãs palavras: por causa desses vícios abate-se a ira de Deus sobre os desobedientes. Não queirais, pois, acomunar-vos a eles. Em tempos, éreis trevas, mas, agora, sois luz no Senhor. Procedei, pois, como filhos da luz”.( Ef. 5, 3-8; cfr. 4, 18-19),
Apóstolo precisa, além disso, a razão propriamente cristã para praticar a castidade, quando condena o pecado de fornicação, não somente na medida em que esta ação prejudica o próximo ou a ordem social, mas também porque o fornicador ofende a Cristo que o resgatou com o seu sangue e do qual é membro, e o Espírito Santo de quem ele é templo: “Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo?… Qualquer outro pecado que o homem cometer é exterior ao seu corpo; mas o fornicador é contra o seu próprio corpo que peca. Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, que vos foi dado por Deus, e que vós não sois senhores de vós mesmos? Na verdade, fostes comprados a elevado preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo”. (1 Cor. 6, 15. 18-19).
Quanto mais os fiéis compreenderem a valor da castidade e a função necessária da mesma, nas suas vidas de homens e de mulheres, tanto melhor eles captarão, por uma espécie de instinto espiritual, as exigências e os conselhos e melhor saberão aceitar e cumprir, dóceis ao ensino da Igreja, aquilo que a consciência recta lhes ditar nos casos concretos.
Fonte: Declaração PERSONA HUMANA, sobre alguns pontos da ética sexual da Sagrada Congregação para a doutrina da Fé. Roma 29 de Dezembro de 1975.