“A terra será maldita por tua causa”
Após o pecado original, Deus amaldiçoa a serpente, que fez o homem e a mulher cair no pecado. Depois, pune a mulher anunciando-lhe as dores do parto e uma relação desigual com o marido. Por fim, pune o homem, anuncia-lhe a fadiga no trabalhar e amaldiçoa o solo. “A terra será maldita por tua causa” (Gn 3,17), por causa do teu pecado.
Portanto, o homem e a mulher não são amaldiçoados diretamente como o é, ao invés, a serpente, mas, por causa do pecado de Adão, é amaldiçoada a terra, da qual ele havia sido extraído.
Um sinal de morte
A terra sofre uma transformação negativa por causa do pecado. Enquanto antes da queda a terra é uma potencialidade totalmente boa, irrigada por um vapor de água (Gn 2,6) e capaz, pela obra de Deus, de germinar “toda sorte de árvores, de aspecto agradável, e de frutos doces para comer” (Gn 2,9), após a queda e a consequente maldição divina ela produzirá “espinhos e abrolhos” e somente com “trabalhos penosos” e “com o suor do teu rosto” concederá ao homem os seus frutos (cfr Gn 3,17-18). O pó da terra não mais evoca o gesto criador de Deus, totalmente aberto à vida, mas se torna sinal de um inexorável destino de morte: “És pó, e em pó te hás de tornar” (Gn 3,19).
Uma função medicinal
Dizia São João Crisóstomo, que a maldição do solo tem uma função “medicinal”. Isso significa que a intenção de Deus, que é sempre benéfica, é mais profunda do que a sua própria maldição. De fato, ela se deve ao pecado e não a Deus, porém Deus não pode deixar de infligi-la, porque respeita a liberdade do homem e as suas consequências, mesmo negativas. Portanto, dentro da punição, e também dentro da maldição do solo, permanece uma intenção boa que vem de Deus. Quando Ele diz ao homem: “Tu és pó e pó voltarás a ser!”, junto com a justa punição pretende também anunciar um caminho de salvação, que passará justamente mediante a terra, mediante aquele “pó”, aquela “carne” que será assumida pelo Verbo.
Fonte: Parte da homilia do Papa Emérito Bento XVI proferida em 22 de fevereiro de 2012 na Basílica de Santa Sabina em Roma.