A esperança verdadeira e segura está fundamentada na fé em Deus Amor, Pai misericordioso, que “amou de tal modo o mundo, que lhe deu o seu único Filho” (Jo 3, 16), a fim de que os homens e, juntamente com eles, todas as criaturas, possam ter vida em abundância (cf. Jo 10, 10). Por conseguinte, estamos vivendo um tempo favorável para a redescoberta de uma esperança não vaga nem ilusória, mas certa e confiável, porque está “ancorada” em Cristo, Deus feito homem, rochedo da nossa salvação.
O homem é a única criatura livre de dizer “sim” ou “não” à eternidade, ou seja, a Deus. O ser humano pode apagar em si mesmo a esperança, eliminando Deus da sua própria vida. Como é que isto se pode verificar? Como pode acontecer que a criatura “feita por Deus”, intimamente orientada para Ele, a mais próxima do Eterno, possa privar-se desta riqueza?
Deus conhece o coração do homem. Sabe que quem O rejeita não conheceu o seu verdadeiro rosto, e por isso não cessa de bater à nossa porta, como peregrino humilde em busca de hospitalidade.
Eis por que motivo o Senhor concede um novo período à humanidade: a fim de que todos possam chegar a conhecê-lo! É uma dádiva de Deus, que deseja novamente revelar-se no mistério de Cristo, mediante a Palavra e os Sacramentos. Através da Igreja, deseja falar à humanidade e salvar os homens de hoje. E fá-lo, indo ao seu encontro para “procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19, 10). Nesta perspectiva, a celebração do Advento é a resposta da Igreja Esposa à iniciativa sempre nova de Deus Esposo, “que é, que era e que há-de vir” (Ap 1, 8). À humanidade que já não tem tempo para Ele, Deus oferece mais tempo, um novo espaço para que volte a entrar em si mesma, a fim de que se ponha novamente a caminho, para reencontrar o sentido da esperança.
Eis, então, a descoberta surpreendente: a minha, a nossa esperança é precedida pela expectativa que Deus cultiva a nosso respeito! Sim, Deus ama-nos e precisamente por este motivo espera que nós voltemos para Ele, que abramos o nosso coração ao seu amor, que coloquemos a nossa mão na sua e nos recordemos que somos seus filhos. Esta expectativa de Deus precede sempre a nossa esperança, exatamente como o seu amor nos alcança sempre primeiro (cf. 1 Jo 4, 10). Neste sentido, a esperança cristã chama-se “teologal”:Deus é a sua fonte, o seu ponto de apoio e o seu termo. Que grande consolação há neste mistério! O meu Criador inseriu no meu espírito um reflexo do seu desejo de vida para todos. Cada um dos homens é chamado a esperar, correspondendo à expectativa que Deus tem acerca dele. De resto, a experiência demonstra-nos que é precisamente assim. O que é que faz progredir o mundo, a não ser a confiança que Deus tem no homem? É uma confiança que encontra o seu reflexo nos corações dos pequeninos e dos humildes quando, através das dificuldades e dos afãs, se comprometem todos os dias a fazer o melhor que podem, a realizar o pouco de bem que contudo aos olhos de Deus é muito: na família, no lugar de trabalho, na escola e nos vários âmbitos da sociedade. No coração do homem a esperança está inscrita de maneira indelével, porque Deus nosso Pai é vida, e é para a vida eterna e bem-aventurada que nós fomos criados.
Cada criança que nasce é sinal da confiança de Deus no homem e é uma confirmação, pelo menos implícita, da esperança que o homem nutre por um futuro aberto à eternidade de Deus. A esta esperança do homem, Deus respondeu nascendo no tempo como pequeno ser humano. Santo Agostinho escrevia: “Poderíamos pensar que a vossa Palavra se tinha afastado da união com o homem e desesperado de nos salvar, se não se tivesse feito homem e habitado entre nós” (Conf. X, 43, 69, cit. in Spe salvi, 29). Então, deixemo-nos orientar por Aquela que trouxe no coração e no ventre o Verbo encarnado. Ó Maria, Virgem da expectativa e Mãe da esperança, reaviva em toda a Igreja o espírito do Advento, para que a humanidade inteira volte a pôr-se a caminho rumo a Belém, onde veio e onde virá de novo para nos visitar o Sol que nasce do alto (cf. Lc 1, 78), Cristo nosso Deus. Amém.
Fonte: Parte da Homilia do Papa Emérito Bento XVI durante a Celebração das Primeiras vésperas do Advento. Sábado, 1º de dezembro de 2007, na Basílica Vaticana.