A Igreja Romana apresenta-nos dia 10 de agosto, o dia glorioso de São Lourenço quando ele calcou o furor do mundo, desprezou sua sedução e num e noutro modo venceu o diabo perseguidor.
Nesta mesma Igreja – ouvistes muitas vezes – Lourenço exercia o ministério de diácono. Aí servia o sagrado sangue de Cristo; aí, pelo nome de Cristo, derramou seu sangue. O santo apóstolo João expôs claramente o mistério da ceia ao dizer: “Como Cristo entregou sua vida por nós, também nós devemos entregar as nossas pelos irmãos” (1Jo 3,16). São Lourenço, irmãos, entendeu isto; entendeu e fez; e da mesmíssima forma como recebeu daquela mesa, assim a preparou. Amou a Cristo em sua vida, imitou-o em sua morte.
Também nós, irmãos, se de verdade amamos, imitemos.
Não poderíamos produzir melhor fruto de amor do que o exemplo da imitação; “Cristo sofreu por nós, deixando-nos o exemplo para seguirmos suas pegadas” (1Pd 2,21). Nesta frase, parece que o apóstolo Pedro quer dizer que Cristo sofreu apenas por aqueles que seguem suas pegadas e que a morte de Cristo não aproveita senão àqueles que caminham em seu seguimento. Seguiram-no os santos mártires até à efusão do sangue, até à semelhança da paixão; seguiram-no os mártires, porém não só eles. Depois que estes passaram a ponte não foi cortada; ou depois que beberam, a fonte não secou.
Por todos morreu Cristo
Tem, irmãos, tem o jardim do Senhor não apenas rosas dos mártires; tem também lírios das virgens, heras dos casados, violetas das viúvas. Absolutamente ninguém, irmãos, seja quem for, desespere de sua vocação; por todos morreu Cristo. Com toda a verdade, dele se escreveu: “Que quer salvos todos os homens, e que cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4).
Compreendamos, portanto, como pode o cristão seguir Cristo além do derramamento de sangue, além do perigo de morte. O Apóstolo diz, referindo-se ao Cristo Senhor: “Tendo a condição divina, não julgou rapina ser igual a Deus. Que majestade! Mas aniquilou-se, tomando a condição de escravo, feito semelhante aos homens e reconhecido como homem” (Fl 2,7-8). Que humildade!
Cristo humilhou-se: aí tens, cristão, a que te apegar. Cristo se humilhou: por que te enches de orgulho? Em seguida, terminada a carreira desta humilhação, lançada por terra a morte, Cristo subiu ao céu; sigamo-lo. Ouçamos o Apóstolo: “Se ressuscitastes com Cristo, descobri o sabor das realidades do alto, onde Cristo está assentado à destra de Deus” (Cl 3,1).
Fonte: Parte dos Sermões de Santo Agostinho, bispo. (Séc.V)