“Suplicamo-vos, pois, em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus. Aquele que não havia conhecido pecado, Deus O fez pecado por nós para que nos tornássemos n’Ele justiça de Deus” (2 Cor 5, 20-21).
Quantos de nós somos, inconscientemente, inimigos de Deus, por isso, nos afastamos Dele e deliberadamente começamos a ter atitudes que sabemos que lhe desagrada; como uma espécie de ‘vingança’ emocional contra aquele que se tornou nosso ‘inimigo’.
Como buscar uma reconciliação com Deus? Examine sua consciência.
Coloquemo-nos diante de Cristo que, por amor, assumiu as nossas iniquidades, todos nós somos convidados a um profundo exame de consciência. Ou seja, uma profunda “purificação da memória” (Bula Incarnationis mysterium, 11).
Jesus já morreu por mim, já me reconciliou com o Pai. E eu? São João Paulo II diz: ‘Cristo, o Santo, embora sendo absolutamente sem pecado, aceita tomar sobre si os nossos pecados. Para nos remir, aceita assumir os nossos pecados, para cumprir a missão recebida do Pai, que – como escreve o evangelista João – “amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho único, para que todo o que n’Ele crer… tenha a vida eterna” ‘(3, 16).
Despojemo-nos de todo orgulho. Tantas vezes o motivo de nossa mágoa com Deus é devido ao fato que Ele não faz todas as nossas vontades, é desperdiçado assim, o sacrifício de Cristo.
Perdoemos e peçamos perdão!
Mas o que exprime para nós o termo “reconciliação”? Para captar o seu exato sentido e valor, é preciso antes dar-se conta da possibilidade da divisão, da separação. Sim, o homem é a única criatura sobre a terra que pode estabelecer uma relação de comunhão com o seu Criador, mas é também a única que se pode separar d’Ele. Infelizmente, de fato, muitas vezes ele se afasta de Deus.
“Levantar-me-ei e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei…” (Lc 15, 18).
Deus, bem representado pelo pai da parábola, acolhe todo o filho pródigo que a Ele retorna. Acolhe-o mediante Cristo, no qual o pecador pode tornar-se “justo” com a justiça de Deus. Acolhe-o, porque tratou o seu Filho eterno como pecado em nosso favor. Sim. Só por meio de Cristo podemos tornar-nos justiça de Deus (cf. 2 Cor 5, 21).
“Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho único“. Em síntese, eis o significado, o mistério da redenção do mundo! É preciso dar-se profundamente conta do valor do grande dom que o Pai nos concedeu em Jesus. É preciso que diante dos olhos da nossa alma se apresente Cristo – o Cristo do Getsêmani, o Cristo flagelado, coroado de espinhos, carregando a cruz e enfim crucificado. Cristo assumiu sobre si o peso dos pecados de todos os homens, o fardo dos nossos pecados, para podermos, em virtude do seu sacrifício salvífico, ser reconciliados com Deus.
“Saulo, Saulo, por que Me persegues?…
Como testemunha, apresenta-se-nos hoje Saulo de Tarso, que se tornou São Paulo: ele experimentou de maneira singular o poder da Cruz no caminho de Damasco. O Ressuscitado manifestou-se-lhe com todo o seu fulgurante poder: “Saulo, Saulo, por que Me persegues?…
Quem és Tu, Senhor?… Eu sou Jesus, a quem tu persegues!” (Act 9, 4-5). Paulo, que experimentou de modo tão forte o poder da Cruz de Cristo, dirige-se hoje a nós com uma ardente súplica: “Exortamo-vos a que não recebais em vão a graça de Deus“. Esta graça é-nos oferecida, insiste São Paulo, pelo próprio Deus, que hoje nos diz: “Ouvi-te no tempo favorável e ajudei-te no dia da salvação” (2 Cor 6, 1-2).
Fonte: Baseado em parte da Homilia de São João Paulo II , proferida na Santa Missa do Perdão do Ano Santo de 2000. Domingo 12 de março de 2000.