Uma vez mais responde-nos o texto sagrado: “Estes são os que vêm da grande tribulação: lavaram as suas vestes e alvejaram-nas no sangue do Cordeiro” (Apoc. 7, 14).
E que significa aquele “lavar as vestes e alvejá-las no sangue do Cordeiro”?
Significa usufruir dos tesouros da Redenção. Não é porventura verdadeiro, como canta o Hino pascal, que “o Cordeiro redimiu o seu rebanho”? Eis então que os Santos, além de serem para nós modelos das virtudes evangélicas, como são propostas em cada uma das Bem-aventuranças; são pessoas, que de modo mais pleno beberam dos “recursos” da Redenção de Cristo e, participaram do “candor”, da riqueza do Cordeiro, nos precedem na celebração da liturgia celeste, que se realiza “diante do trono e diante do Cordeiro”.
Que significa a “Comunhão dos Santos”?
Comunhão significa união íntima, que é muito mais do que um simples contato e comunicação: no campo sobrenatural, ela exprime a união íntima que subsiste com aqueles que, pela posse da graça santificante, são membros vivos da Igreja, e a título todo especial, com aqueles que, pela posse da sua glória, são já “bem-aventurados” na Igreja assim chamada triunfante.
Devemos, portanto, agradecer aos Santos, não tanto como indivíduos dignos, sim, de admiração, mas para nós muito distantes e quase inatingíveis na sua altura, mas como irmãos que estão perto de nós e querem ajudar-nos no nosso peregrinar terreno. Como eles, vivendo junto do trono de Deus, ao lado do Cordeiro redentor, agora participam em plenitude nos frutos da Redenção, deste modo são capazes de nos abrir de modo singular o acesso a tais “recursos” sobrenaturais. Aquela “comunhão” existente entre todos os que pertencem a Cristo, torna-se no caso dos Santos um vínculo ainda mais estreito e para nós, peregrinos aqui na terra, particularmente fecundo: torna-se intercessão, isto é, ajuda nas necessidades, defesa dos perigos, amparo no realizar o bem. Acompanhados e como que escoltados por esta multidão imensa de Irmãos maiores, nós devemos com renovada confiança aproximar-nos do trono onde está o Cordeiro imaculado, para fazermos nossos e — diria quase — “personalizarmos” os frutos da Redenção, que Ele completou com a sua morte e ressurreição.
Fonte: Parte da homilia do Papa São João Paulo II, por ocasião da Santa Missa em sufrágio do fiéis defuntos no Cemitério de “Campo Verano” em Roma. Terça-feira, 01 de novembro de 1983.