Jesus enfrenta o terror da paixão, confiando no Pai: assim se realiza o Reino
São João, na sua redação das palavras do Senhor no “Domingo de Ramos”, acolheu também uma forma modificada da oração de Jesus no Horto das Oliveiras. Temos, em primeiro lugar, a afirmação: A minha alma está perturbada” (12, 27). Transparece aqui o pavor de Jesus, ilustrado amplamente pelos outros três evangelistas: o seu pavor diante do poder da morte, diante de todo o abismo do mal que Ele vê e ao qual deve descer. O Senhor sofre as nossas angústias juntamente conosco, acompanha-nos através da angústia derradeira até à luz. Depois, em João, aparecem duas perguntas de Jesus. A primeira é expressa apenas condicionalmente: E que hei-de dizer? Pai, salva-me desta hora?” (12, 27). Como ser humano, também Jesus Se sente impelido a pedir que Lhe seja poupado o terror da paixão. Também nós podemos rezar deste modo. Podemos também lamentar-nos na presença do Senhor, como Jó, apresentar-Lhe todas as interrogações que surgem em nós à vista da injustiça no mundo e da dificuldade do nosso próprio eu. Diante d’Ele não devemos refugiar-nos em frases piedosas, num mundo fictício. Rezar significa sempre também lutar com Deus e, como Jacob, podemos dizer-Lhe: Não te deixarei partir enquanto não me abençoares” (Gen 32, 27). Mas depois vem o segundo pedido de Jesus: Glorifica o teu nome!” (Jo 12, 28). Nos sinóticos, este pedido ressoa assim: Não se faça, contudo, a minha vontade, mas a tua” (Lc 22, 42). No fim, a glória de Deus, o seu domínio, a sua vontade é sempre mais importante e mais verdadeira do que o meu pensamento e a minha vontade. E, na nossa oração e na nossa vida, o essencial é isto: aprender esta ordem justa da realidade, aceitá-la intimamente; confiar em Deus e crer que Ele está a fazer o que é justo; que a sua vontade é a verdade e o amor; que a minha vida se torna boa, se aprendo a aderir a esta ordem. Vida, morte e ressurreição de Jesus são, para nós, a garantia de que podemos verdadeiramente fiar-nos de Deus. É assim que se realiza o seu Reino.
Na cruz, tocamos o mistério maravilhoso do amor de Deus, a única verdade realmente redentora
Tocamos o mistério maravilhoso do amor de Deus, a única verdade realmente redentora. Mas tocamos também a lei fundamental, a norma constitutiva da nossa vida, isto é, o fato de que, sem o “sim” à Cruz, sem caminhar unidos com Cristo dia após dia, a vida não pode ter êxito. Quanto mais renúncia pudermos fazer por amor da grande verdade e do grande amor – por amor da verdade e do amor de Deus –, tanto maior e mais rica se tornará a vida. Quem quiser reservar a sua vida para si próprio, perde-a. Quem dá a sua vida – diariamente nos pequenos gestos, que fazem parte da grande decisão – tal pessoa encontra-a. Esta é a verdade exigente, mas também profundamente bela e libertadora, na qual queremos penetrar passo a passo ao longo do caminho da Cruz através dos continentes. Queira o Senhor abençoar este caminho.
Fonte: Parte da Homilia do Papa Bento XVI na Celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, XXIV Jornada Mundial da Juventude (Praça de São Pedro, Domingo, 5 de Abril de 2009)