As palavras da Epístola aos Hebreus explicam-nos, de que maneira Cristo «se ofereceu a si mesmo sem mácula a Deus», e como fez isto «em virtude de um Espírito eterno». No sacrifício do Filho do homem, o Espírito Santo está presente e age tal como agia na sua concepção, na sua vinda ao mundo, na sua vida oculta e no seu ministério público. Segundo a Epístola aos Hebreus, na caminhada para a sua «partida», através do Getsêmani e do Gólgota, o próprio Jesus Cristo se abriu totalmente na sua humanidade à ação do Espírito-Paráclito que, do sofrimento, faz emergir o eterno amor salvífico. Ele, portanto, foi «atendido pela sua piedade. Apesar de ser Filho de Deus, aprendeu a obedecer pelos sofrimentos suportados». Deste modo, a Epístola demonstra como a humanidade, submetida ao pecado nos descendentes do primeiro Adão, se tornou em Jesus Cristo perfeitamente submetida a Deus e a ele unida, e, ao mesmo tempo, cheia de misericórdia para com os homens. Aparece assim uma nova humanidade que, em Jesus Cristo, mediante o sofrimento da Cruz, retornou ao amor, traído por Adão com o pecado. Esta nova humanidade reencontra-se na mesma fonte divina do dom original: no Espírito que «perscruta … as profundezas de Deus» e que é ele próprio Amor e Dom.

O Filho de Deus, Jesus Cristo — como homem — , na oração ardente da Sua paixão, permitiu ao Espírito Santo, que já tinha penetrado até ao mais profundo a sua humanidade, transformá-la num sacrifício perfeito mediante o ato da sua morte, como vítima de amor na Cruz. Foi Ele, sozinho, quem fez esta oblação. Como único Sacerdote, «ofereceu-se a si mesmo sem mácula a Deus». Na sua humanidade Ele era digno de se tornar um tal sacrifício, porque Ele só era «sem mácula». Mas ofereceu-o «em virtude de um Espírito eterno»: o que equivale a dizer que o Espírito Santo agiu de um modo especial nesta autodoação absoluta do Filho do homem, para transformar o sofrimento em amor redentor.

No antigo Testamento, por mais de uma vez se fala do «fogo do céu», que queimava as oferendas apresentadas pelos homens. Por analogia, pode dizer-se que o Espírito Santo é «fogo do céu» que age no mais profundo do mistério da Cruz. Provindo do Pai, Ele encaminha para o Pai o sacrifício do Filho, introduzindo-o na divina realidade da comunhão trinitária. Se o pecado gerou o sofrimento, agora o sofrimento de Deus em Cristo crucificado adquire, pelo Espírito Santo, a sua plena expressão humana. Encontramo-nos assim diante de um mistério paradoxal de amor: em Cristo, sofre um Deus rejeitado pela sua própria criatura: «Não creem em mim!»; mas, ao mesmo tempo, à profundeza deste sofrimento — e indiretamente à profundeza do próprio pecado «de não ter acreditado» — o Espírito Santo vai buscar uma nova medida do dom feito ao homem e à criação desde o princípio. Nas profundezas do mistério da Cruz está operante o Amor, que reconduz o homem a participar novamente na vida, que está no próprio Deus.

O Espírito Santo como Amor e Dom desce, em certo sentido, ao próprio coração do sacrifício que é oferecido na Cruz. Referindo-nos à tradição bíblica podemos dizer: Ele consuma este sacrifício com o fogo do Amor, que une o Filho ao Pai na comunhão trinitária. E dado que o sacrifício da Cruz é um ato próprio de Cristo, também neste sacrifício Ele «recebe» o Espírito Santo. E recebe-o de tal modo, que depois Ele mesmo — e Ele somente com Deus Pai — o pode «dar» aos Apóstolos, à Igreja e à humanidade. Ele só o «envia» de junto do Pai. Ele só se apresenta diante dos Apóstolos reunidos no Cenáculo, «sopra sobre eles» e diz: «Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados», como tinha preanunciado João Batista: «Ele batizar-vos-á com o Espírito Santo e com O fogo». Com estas palavras de Jesus o Espírito Santo é revelado e ao mesmo tempo é tornado presente como Amor que está operante no mais profundo do mistério pascal, como fonte do poder salvífico da Cruz de Cristo, como Dom da vida nova e eterna.

Esta verdade sobre o Espírito Santo é expressa cotidianamente na Liturgia romana, quando o Sacerdote, antes da comunhão, profere estas palavras significativas: «Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, que, por vontade do Pai, cooperando o Espírito Santo, destes vida ao mundo pela vossa morte …». E na Oração Eucarística III, referindo-se à mesma economia salvífica, o Sacerdote pede a Deus que o Espírito Santo «faça de nós uma oferenda permanente» que lhe seja agradável.

Fonte: Carta Encíclica DOMINUM ET VIVIFICANTEM, de São João Paulo II, sobre o Espírito Santo na vida da Igreja e do mundo.