O que se produz no Batismo é a união de modo profundo e para sempre com Jesus. Os cristãos estão imersos na morte de Jesus, que é fonte de vida, para participar de sua ressurreição, para renascer a uma vida nova.

Renascemos como filhos de Deus, participantes da relação filial que Jesus tem com o Pai, capazes de dirigir-nos a Deus chamando-O com plena segurança e confiança: “Abbá, Pai””.

Inseridos nesta relação e libertados do pecado original, nos tornamos membros vivos do único corpo que é a Igreja e somos capazes de viver em plenitude a nossa vocação à santidade, de forma que possamos herdar a vida eterna, obtida a partir da ressurreição de Jesus. No sacramento do Batismo se manifesta de fato a presença viva e operante do Espírito Santo que, enriquecendo a Igreja com novos filhos, a vivifica e a faz crescer.

A história evangélica do batismo de Jesus mostra o caminho de redução e humildade que o Filho de Deus escolheu livremente para aderir ao desígnio do Pai, para ser obediente à sua vontade de amor para o homem em tudo, até o sacrifício na cruz. Tornado então homem, Jesus inicia o seu ministério público indo para o rio Jordão para receber de João um batismo de arrependimento e de conversão. Acontece aquilo que aos nossos olhos poderia parecer paradoxal.

Jesus precisou de arrependimento e conversão? Certamente não. No entanto, propriamente Aquele que é sem pecado coloca-se entre os pecadores para fazer-se batizar, para cumprir este gesto de penitência. O Santo de Deus se une a quantos que se reconhecem necessitados de perdão e pedem a Deus o dom da conversão, isso é, a graça de voltar-se a Ele com todo o coração, para ser totalmente seu.

Jesus quer colocar-se do lado dos pecadores, fazendo-se solidário com esses, exprimindo a proximidade de Deus. Jesus se mostra solidário conosco, com o nosso esforço de nos convertermos, de deixar os nossos egoísmos, de separar-nos dos nossos pecados, para dizer-nos que se O aceitamos na nossa vida, Ele é capaz de levantar-nos e nos conduzir a Deus Pai.

O que acontece no momento em que Jesus se deixa batizar por João? Diante deste ato de amor humilde da parte do Filho de Deus, se abrem os céus e se manifesta visivelmente o Espírito Santo sobre forma de pomba, enquanto uma voz do alto exprime a complacência do Pai, que reconhece o Filho unigênito, o Amado. Trata-se de uma verdadeira manifestação da Santíssima Trindade, que dá testemunho da divindade de Jesus, do seu ser o Messias prometido, Aquele que Deus mandou para libertar o seu povo, para que seja salvo.

Realiza-se assim a profecia de Isaías: o Senhor Deus vem com poder para destruir as obras do pecado e o seu braço exerce o domínio para desarmar o Maligno; mas tenhamos em mente que este é o braço estendido na cruz e que o poder de Cristo é o poder Daquele que sofre por nós: este é o poder de Deus, diferente do poder do mundo; assim vem Deus com poder para destruir o pecado.

Realmente Jesus age como o bom Pastor que apascenta o rebanho e o reúne, para que não seja disperso (cfr Is 40,10-11), e oferece a sua própria vida para que tenha vida. É pela sua morte redentora que o homem é libertado do domínio do pecado e é reconciliado com o Pai; é pela sua ressurreição que o homem é salvo da morte eterna e é feito vitorioso sobre o mal.

É a alegria de reconhecer-nos filhos de Deus, de descobrir-nos confiados às suas mãos, de sentir-nos acolhidos em um abraço de amor, do mesmo modo que uma mãe apoia e abraça o seu filho. Esta alegria, que orienta o caminho de cada cristão, é baseada em um relacionamento pessoal com Jesus, um relacionamento que orienta toda a existência humana. É Ele de fato o sentido da nossa vida, Aquele sobre o qual vale a pena ter fixo o olhar, para ser iluminados pela sua Verdade e poder viver em plenitude.

Fonte: Parte da Homilia do Papa Emérito Bento XVI, da celebração do Batismo do Senhor, na Capela Sistina, no ano de 2003.