Respeitando todas as crenças e todas as sensibilidades, devemos afirmar antes de mais, com simplicidade, a nossa fé em Cristo, único Salvador do homem — fé que recebemos como um dom do Alto, sem mérito algum da nossa parte. Dizemos com S. Paulo: “eu não me envergonho do Evangelho, o qual é poder de Deus para salvação de todo o crente” (Rm 1, 16). Os mártires cristãos de todos os tempos — também do nosso — deram e continuam a dar a vida para testemunhar aos homens esta fé, convencidos de que cada homem necessita de Jesus Cristo, o Qual, destruindo o pecado e a morte, reconciliou os homens com Deus.
Cristo proclamou-se Filho de Deus, intimamente unido ao Pai e, como tal, foi reconhecido pelos discípulos, confirmando as suas palavras com milagres e sobretudo com a ressurreição. A Igreja oferece aos homens o Evangelho, documento profético, capaz de corresponder às exigências e aspirações do coração humano: é e será sempre a “Boa Nova”. A Igreja não pode deixar de proclamar que Jesus veio revelar a face de Deus, e merecer, pela cruz e ressurreição, a salvação para todos os homens.
Porquê a missão?
Respondemos, com a fé e a experiência da Igreja, que abrir-se ao amor de Cristo é a verdadeira libertação. N’Ele, e só n’Ele, somos libertos de toda a alienação e extravio, da escravidão ao poder do pecado e da morte. Cristo é verdadeiramente “a nossa paz” (Ef 2,14), e “o amor de Cristo nos impele”  (2 Cor 5, 14), dando sentido e alegria à nossa vida. A missão é um problema de fé, é a medida exata da nossa fé em Cristo e no Seu amor por nós.
“O cristianismo não é a ciência do bem viver”
A tentação hoje é reduzir o cristianismo a uma sabedoria meramente humana, como se fosse à ciência do bom viver. Num mundo fortemente secularizado, surgiu uma ” gradual secularização da salvação”,  onde se procura lutar, sem dúvida, pelo homem, mas por um homem dividido a meio, reduzido unicamente à dimensão horizontal. Ora nós sabemos que Jesus veio trazer a salvação integral, que abrange o homem todo e todos os homens, abrindo-lhes os horizontes admiráveis da filiação divina.
Porquê a missão?
Porque a nós, como a S. Paulo, “nos foi dada esta graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo” (Ef 3, 8). A novidade de vida n’Ele é “Boa Nova” para o homem de todos os tempos: a ela todos são chamados e destinados.
Todos, de fato, a buscam, mesmo se às vezes confusamente, e têm o direito de conhecer o valor de tal dom e aproximar-se dele. A Igreja, e nela cada cristão, não pode esconder nem guardar para si esta novidade e riqueza, recebida da bondade divina para ser comunicada a todos os homens.
Eis por que a missão, para além do mandato formal do Senhor, deriva ainda da profunda exigência da vida de Deus em nós. Aqueles que estão incorporados na Igreja Católica devem-se sentir privilegiados, e, por isso mesmo, mais comprometidos a testemunhar a fé e a vida cristã como serviço aos irmãos e resposta devida a Deus, lembrados de que “a grandeza da sua condição não se deve atribuir aos próprios méritos, mas a uma graça especial de Cristo; se não correspondem a essa graça por pensamentos, palavras e obras, em vez de se salvarem, incorrem num julgamento ainda mais severo”. Lumen Gentium 14).
Fonte: Parte da Encíclica ‘REDEMPTORIS MISSIO’ de São João Paulo II sobre a validade permanente do mandato missionário. CAPÍTULO I, 11.