“Feliz daquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor” (Lc 1, 45), diz Isabel ao receber a visita da Santíssima Virgem Maria. Estas palavras podem ser postas ao lado do apelativo “cheia de graça” da saudação do Anjo. Em ambos os textos se revela um conteúdo mariológico essencial, isto é, a verdade acerca de Maria, cuja presença se tornou real no mistério de Cristo, precisamente porque ela “acreditou”. A plenitude de graça, anunciada pelo Anjo, significa o dom de Deus mesmo; a fé de Maria, proclamada por Isabel aquando da Visitação, mostra como a Virgem de Nazaré tinha correspondido a este dom.

“A Deus que revela é devida “a obediência da fé” (Rom 16, 26; cf. Rom 1, 5; 2 Cor 10, 5-6), pela qual o homem se entrega total e livremente a Deus”, como ensina o Concílio. Exatamente esta descrição da fé teve em Maria uma atuação perfeita. O momento “decisivo” foi a Anunciação; e as palavras de Isabel – “feliz daquela que acreditou” – referem-se em primeiro lugar precisamente a esse momento.
Na Anunciação, de fato, Maria entregou-se a Deus completamente, manifestando “a obediência da fé” Àquele que lhe falava, mediante o seu mensageiro, prestando-lhe o “obséquio pleno da inteligência e da vontade”. Ela respondeu, pois, com todo o seu “eu” humano e feminino. Nesta resposta de fé estava contida uma cooperação perfeita com a “prévia e concomitante ajuda da graça divina” e uma disponibilidade perfeita à ação do Espírito Santo, o qual “aperfeiçoa continuamente a fé mediante os seus dons”.

A palavra de Deus vivo, anunciada pelo Anjo a Maria, referia-se a ela própria: “Eis que conceberás e darás à luz um filho” (Lc 1, 31). Acolhendo este anúncio, Maria devia tornar-se a “Mãe do Senhor” e realizar-se-ia nela o mistério divino da Encarnação: “O Pai das misericórdias quis que a aceitação por parte da que Ele predestinara para mãe, precedesse a Encarnação”. E Maria dá esse consenso, depois de ter ouvido todas as palavras do mensageiro. Diz: “Eis a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). Este fiat de Maria – “faça-se em mim” – decidiu, da parte humana, do cumprimento do mistério divino. Existe uma consonância plena com as palavras do Filho que, segundo a Carta aos Hebreus, ao vir a este mundo, diz ao Pai: “Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formaste-me um corpo… Eis que venho… para fazer, ó Deus, a tua vontade” (Hebr 10, 5-7). O mistério da Encarnação realizou-se quando Maria pronunciou o seu “fiat”: “Faça-se em mim segundo a tua palavra”, tornando possível, pelo que a ela competia no desígnio divino, a aceitação do oferecimento do seu Filho.

Maria pronunciou este “fiat” mediante a fé. Foi mediante a fé que ela “se entregou a Deus” sem reservas e “se consagrou totalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e à obra do seu Filho”. E este Filho – como ensinam os Padres da Igreja – concebeu-o na mente antes de o conceber no seio: precisamente mediante a fé! Com justeza, portanto, Isabel louva Maria: “Feliz daquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor”. Essas coisas já se tinham cumprido: Maria de Nazaré apresenta-se no limiar da casa de Isabel e de Zacarias como mãe do Filho de Deus. É essa a descoberta letificante de Isabel: “A mãe do meu Senhor vem ter comigo!”.

Fonte: Carta Encíclica REDEMPTORIS MATER, do Sumo Pontífice João Paulo II, sobre a Bem-Aventurada Virgem Maria na vida da Igreja que está a caminho.