Aproveita o hoje em que Deus te chama para te conceder a salvação!
No Evangelho IV Domingo do Tempo Comum , Jesus disse: “Hoje cumpriu-se este oráculo que [agora] vós acabais de ouvir” (Lc 4, 21). São Cirilo de Alexandria afirma que o “hoje”, inserido entre a primeira e a última vinda de Cristo, está vinculado à capacidade que o fiel tem de ouvir e de se arrepender. Mas, num sentido ainda mais radical, o próprio Jesus é o “hoje” da salvação na história, porque leva a cumprimento a plenitude da redenção. O termo “hoje”, muito querido a são Lucas (cf. 19, 9; 23, 43), leva-nos ao título cristológico preferido pelo mesmo evangelista, ou seja, “salvador” (sōtēr). Já nas narrações da infância, ele é apresentado com as palavras que o anjo dirigiu aos pastores: “Hoje nasceu-vos na Cidade de David um Salvador, Cristo Senhor” (Lc 2, 11).
Um “hoje” propício para a nossa conversão
Caros amigos, este trecho interpela-nos “hoje” também a nós. Antes de tudo, faz-nos pensar no nosso modo de viver o domingo: dia do descanso e da família, mas antes ainda dia a dedicar ao Senhor, participando na Eucaristia, na qual nos alimentamos do Corpo e Sangue de Cristo e da sua Palavra de vida. Em segundo lugar, no nosso tempo dispersivo e distraído, este Evangelho convida-nos a interrogar-nos sobre a nossa capacidade de escuta. Antes de poder falar de Deus e com Deus, é preciso ouvi-lo, e a liturgia da Igreja é a “escola” desta escuta do Senhor que nos fala. Enfim, diz-nos que cada momento pode tornar-se um “hoje” propício para a nossa conversão. Cada dia (kathēmeran) pode tornar-se o hoje salvífico, porque a salvação é história que continua para a Igreja e para cada discípulo de Cristo. Este é o sentido cristão do “carpe diem”: aproveita o hoje em que Deus te chama para te conceder à salvação!
Uma grande fé em Deus
O Evangelho deste domingo apresenta-nos ainda como modelos de fé as figuras da viúva de Sarepta e do sírio Naamã. Ambos os personagens totalmente paralisadas diante das circunstâncias que se lhes apresentavam naquele momento, e precisamente com esta condição demonstram uma grande fé em Deus. Encontra-se a primeira no ciclo de narrações sobre o profeta Elias. Ele, durante uma época de carestia, recebe do Senhor a ordem de ir aos arredores de Sídon, portanto fora de Israel, em território pagão. Lá encontra uma viúva e pede-lhe água para beber e um pouco de pão. A mulher responde que só tem um punhado de farinha e uma gota de azeite, mas, dado que o profeta insiste e lhe promete que, se o ouvir, não lhe faltarão nem farinha nem azeite, satisfaz o seu pedido e é recompensada.
A unidade inseparável entre fé e caridade
Deus pede sempre a nossa livre adesão de fé, que se expressa no amor por Ele e pelo próximo. Ninguém é tão pobre que não possa dar algo, nem tão rico como Naamã a ponto de não poder receber nada. E de fato, a viúva de Sarepta, hoje demonstra a sua fé cumprindo um gesto de caridade para com o profeta. Confirmam assim a unidade inseparável entre fé e caridade, assim como entre o amor de Deus e o amor ao próximo. O Papa são Leão Magno, afirma quanto segue: “Na balança da justiça divina não se pesa a quantidade dos dons, mas o peso dos corações. Nenhum gesto de bondade está privado de sentido diante de Deus, nenhuma misericórdia permanece sem fruto” (Sermo de jejunio dec. mens., 90, 3).
Fonte: Parte do discurso do Papa Emérito Bento XVI, por ocasião da Oração do Ângelus. Praça de São Pedro. Domingo, 27 de Janeiro de 2013.