“Nós acreditamos naquilo que Vós revelastes da vossa glória”
A nossa assembleia eucarística é testemunho e proclamação da glória do Altíssimo e da sua presença ativa na história. Sustentados pelo Espírito Santo, que o Pai nos enviou através do Filho, “nós gloriamo-nos também nas tribulações, conscientes de que a tribulação produz a perseverança, que a perseverança produz a fidelidade comprovada e que a fidelidade comprovada produz a esperança” (Rm 5, 3-4).
“Vós sois um só Deus, um só Senhor!”. As três Pessoas, iguais e distintas, são um único Deus. A sua distinção real não divide a unidade da natureza divina.
Cristo propôs-nos, a nós que somos seus discípulos, esta comunhão extremamente profunda como um modelo:  “Assim como Tu, ó Pai, estás em mim e Eu em ti. E para que também eles estejam em Nós, para que o mundo acredite que Tu me enviaste” (Jo 17, 21). Em cada ano, a celebração do mistério da Santíssima Trindade constitui para os cristãos uma vigorosa exortação ao compromisso em prol da unidade. Trata-se de uma exortação que diz respeito a todos nós, Pastores e fiéis, impelindo-nos todos a uma renovada consciência da nossa responsabilidade no seio da Igreja, Esposa de Cristo. Como deixar de sentir de modo impelente, perante estas palavras de Cristo, a solicitude ecumênica? Também na presente circunstância, volto a afirmar a vontade de progredir ao longo do caminho difícil, mas rico de alegria, da plena comunhão entre todos os crentes.
Contudo, não se pode negar que uma grande contribuição para a causa ecumênica provém do compromisso dos católicos, de viver a unidade no seu interior. Na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, ressaltei a necessidade de “fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão” (n. 43), conservando o olhar do coração fixo “no mistério da Trindade, que habita no meio de nós, e cuja luz deve ser vista também no rosto dos irmãos”. Deste modo, alimenta-se aquela “espiritualidade da comunhão” que, partindo dos lugares onde se plasmam o homem e o cristão, chega às paróquias, às associações e aos vários movimentos. Uma Igreja particular, em que floresça a espiritualidade da comunhão, saberá purificar-se constantemente dos “venenos” do egoísmo, que geram inveja, desconfiança, ansiedade de autoafirmação e oposições deletérias.
A evocação destes riscos suscita em nós uma espontânea oração ao Espírito Santo, que Jesus Cristo prometeu enviar-nos: “Quando vier o Espírito da Verdade, Ele encaminhar-vos-á para toda a Verdade” (Jo 16, 13).
O que é a verdade? Certo dia, Jesus disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6). Por conseguinte, a formulação correta desta pergunta não é “o que é a verdade?”, mas sim, “quem é a verdade?”.
Esta é a interrogação que levanta também o homem do terceiro milênio. Diletos Irmãos e Irmãs, não podemos calar a resposta, porque nós a conhecemos! A verdade é Jesus Cristo, que veio ao mundo para nos revelar e nos transmitir o amor do Pai. Somos chamados a dar testemunho desta verdade com a palavra e sobretudo com a vida!
“O amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5, 5). Não se trata de um mérito nosso, mas de um dom gratuito. Não obstante o peso dos nossos pecados, Deus amou-nos e redimiu-nos com o sangue de Cristo. A sua graça purificou-nos nas profundezas.
Por isso, podemos exclamar com o Salmista: “Como é grande, Senhor, o teu amor sobre toda a face da terra!”. Como ele é grande em mim, nos outros e em cada ser humano!
Este é o manancial genuíno da grandeza do homem; esta é a raiz da sua dignidade indestrutível. A imagem de Deus reflete-se em cada ser humano. Esta é a “verdade” mais profunda acerca do homem, que não pode de modo algum ser ignorada ou lesada. Em última análise, cada ultraje que se comete contra o homem é como uma ofensa ao seu Criador, que o ama com amor de Pai.
Fonte: Parte da Homilia de São João Paulo II por ocasião da Solenidade da Santíssima Trindade.  Berna, 6 de Junho de 2004.