Caríssimos Irmãos e Irmãs, estas palavras do Senhor ressoam hoje, Dia Missionário Mundial, como feliz notícia para toda a humanidade e como programa de vida para a Igreja e para cada cristão.

“O Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos”(Mc 10, 45).

Estas palavras constituem a autoapresentação do Mestre divino. Jesus define-Se a Si mesmo como Aquele que veio para servir, e que precisamente no serviço e do dom total de Si até à cruz revela o amor do Pai. O seu rosto de “servo” não diminui a sua grandeza divina; ao contrário, ilumina-a com uma luz renovada.

A tentação dos dois irmãos.

Ele não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate em favor de todos. Seguindo a Cristo, o dom de si a todos os homens constitui um imperativo fundamental para a Igreja e, ao mesmo tempo, a indicação de um método para a sua missão.

A Igreja quer anunciar Jesus Cristo, Filho de Maria, seguindo o caminho que o próprio Cristo percorreu: o serviço, a pobreza, a humildade e a cruz. Portanto, ela há de resistir com vigor às tentações que o Evangelho hodierno nos deixa entrever no comportamento dos dois irmãos, que desejavam sentar-se “um à direita e o outro à esquerda” do Mestre, mas inclusivamente dos outros discípulos que não se mostraram insensíveis ao espírito de rivalidade e de competição. A palavra de Cristo traça uma evidente linha de divisão entre o espírito do domínio e o espírito do serviço. Para o discípulo de Cristo, ser o primeiro significa ser “servo de todos”.

O espírito de competição.

Trata-se de uma inversão de valores que só se compreende voltando o olhar para o Filho do homem, “desprezado e rejeitado pelos homens, homem do sofrimento experimentado na dor” (Is 53, 3). São estas as palavras que o Espírito Santo fará com que a sua Igreja compreenda, no que se refere ao mistério de Cristo. Somente no Pentecostes os Apóstolos receberão a capacidade de crer na “força da debilidade”, que se manifesta na Cruz.

As palavras de Jesus acerca do serviço constituem também uma profecia de um novo estilo de relações a promover não só na comunidade cristã, mas também na sociedade em geral. Jamais devemos perder a esperança de fazer nascer um mundo mais fraterno. A competição desregrada, o desejo de dominar os outros a qualquer custo, a discriminação fomentada por aqueles que se julgam superiores aos outros e a desenfreada busca da riqueza encontram-se na origem de injustiças, violências e guerras.

Assim, as palavras de Jesus tornam-se uma exortação a invocar a paz. A missão é o anúncio de Deus que é Pai, de Jesus que é nosso Irmão maior, do Espírito que é amor. A missão é colaboração, humilde mas apaixonada, no desígnio de Deus que deseja uma humanidade salva e reconciliada. No ápice da história do homem, segundo Deus, há um projeto de comunhão e a missão deve conduzir a Ele.

À Rainha da Paz, Rainha das Missões e Estrela da Evangelização peçamos o dom da paz. Invoquemos a sua proteção materna sobre todos aqueles que, com generosidade, colaboram na difusão do nome e da mensagem de Jesus. Ela nos obtenha uma fé tão viva e ardente que faça ressoar com força renovada aos homens do nosso tempo a proclamação da verdade de Cristo, único Salvador do mundo.

Enfim, desejo recordar as palavras que pronunciei há vinte e dois anos nesta Praça: “Não tenhais medo! Abri as portas a Cristo!”.

Fonte: Parte da Homilia de São João Paulo II na Santa Missa do Dia Mundial e de seu XXII Aniversário de Pontificado. Domingo, 22 de Outubro de 2000