“Feliz daquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor” (Lc 1, 45).
Com estas palavras, Isabel recebe Maria, que a fora visitar. Esta mesma bem-aventurança ecoa no Céu e na terra, de geração em geração (Lc1, 48) e de maneira particular na solene celebração de hoje. Maria é bem-aventurada porque acreditou imediatamente na Palavra do Senhor, porque sem hesitar aceitou a vontade do Altíssimo, que lhe fora manifestada pelo Anjo na Anunciação.
Poderíamos ver na viagem que Maria fizera de Nazaré até Ain-Karin, da qual o Evangelho nos fala hoje, como que uma prefiguração da sua particular viagem espiritual que, tendo iniciado com o “sim” no dia da Anunciação, culmina precisamente com a Assunção ao céu em corpo e alma. Um itinerário rumo a Deus, sempre iluminado e apoiado pela fé.
O Concílio Vaticano II afirma que Maria “avançou no caminho da fé, e conservou fielmente a união com seu Filho até à cruz” (Lumen gentium, 58). Por este motivo, ela, na sua incomparável beleza, agradou de tal maneira ao Rei do universo, que agora, plenamente associada a Ele em corpo e alma, resplandece como Rainha à sua Direita (Sal. resp.).
Na hodierna solenidade, a liturgia convida todos nós a contemplar Maria como a “mulher revestida de Sol, tendo a Lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça” (Ap 12, 1). Nela resplandece a vitória de Cristo sobre o maligno, representado na linguagem apocalíptica como um “grande dragão vermelho” (Ap12, 3).
Esta visão gloriosa, e ao mesmo tempo dramática, recorda à Igreja de todos os tempos o seu destino de luz no Reino dos céus e conforta-a nas provações que deve suportar ao longo da peregrinação terrena. Enquanto este mundo durar, a história será sempre teatro do conflito entre Deus e satanás, entre o bem e o mal, entre a graça e o pecado, entre a vida e a morte.
Também as vicissitudes deste século que se aproxima do seu fim, testemunham com extraordinária eloquência a profundidade desta luta, que assinala a história dos povos, mas também o coração de cada homem e mulher. Contudo, o anúncio pascal, que ecoou há pouco nas palavras do apóstolo Paulo (1 Cor 15, 20), é fundamento de esperança certa para todos. Nossa Senhora da Assunção é ícone luminoso deste mistério e desta esperança.
Maria, glorificada no corpo, mostra-se hoje como estrela de esperança para a Igreja e para a humanidade, a caminho rumo ao Terceiro Milênio cristão. A sua altura sublime não a afasta do seu Povo nem dos problemas do mundo, pelo contrário, permite-lhe vigiar de maneira eficaz sobre as vicissitudes humanas com a mesma solicitude atenciosa com que obteve de Jesus o primeiro milagre, durante as Bodas de Caná.
O Apocalipse afirma que a mulher revestida de sol “estava grávida, com dores de parto e gritava com ânsias de dar à luz” (Ap 12, 2). Isto leva a pensar numa página muito importante para a teologia cristã da esperança, escrita pelo apóstolo Paulo: “Sabemos, com efeito, que toda a criação tem gemido e sofrido as dores de parto, até ao presente. E não só ela, mas também nós próprios, que possuímos as primícias do Espírito, gememos igualmente em nós mesmos, aguardando a filiação adotiva, a libertação do nosso corpo. Porque na esperança é que fomos salvos” (Rm 8, 22-24).
Ao celebrar a sua Assunção ao Céu em corpo e alma, oramos a Maria para que ajude os homens e as mulheres do nosso tempo a viverem com fé e esperança neste mundo, procurando o Reino de Deus em todas as coisas; oxalá ela ajude os crentes a abrirem-se à presença e à ação do Espírito Santo, Espírito Criador e Renovador, capaz de transformar os corações; ilumine as mentes acerca do destino que nos espera, da dignidade de cada pessoa e da nobreza do corpo humano.
Maria, elevada ao Céu, mostra-te a todos como Mãe de esperança! Mostra-te a todos como Rainha da Civilização do amor!
Fonte: Parte da homilia de São João Paulo II, por ocasião da Solelidade da Assunção de Nossa Senhora, Castel Gandolfo. 15 de Agosto de 1998