O adorável coração de Jesus Cristo pulsa de amor ao mesmo tempo humano e divino desde que a virgem Maria pronunciou aquela palavra magnífica: “Fiat“, e o Verbo de Deus, como nota o Apóstolo, “ao entrar no mundo disse: Não quiseste sacrifício nem oferenda, mas me apropriaste um corpo; holocaustos pelo pecado não te agradaram. Então disse: Eis que venho para cumprir, ó Deus, a tua vontade… Por esta vontade, pois, somos santificados pela oblação do corpo de Cristo feita uma só vez” (Hb 10,5-7.10). De maneira semelhante palpitava de amor o seu coração, em perfeita harmonia com os afetos da sua vontade humana e com o seu amor divino, quando, na casa de Nazaré, ele mantinha aqueles celestiais colóquios com sua dulcíssima Mãe e com seu pai adotivo, São José, a quem obedecia e com quem colaborava no fatigante ofício de carpinteiro.
Esse mesmo tríplice amor movia o seu coração nas suas contínuas excursões apostólicas, quando realizava aqueles inúmeros milagres, quando ressuscitava os mortos ou restituía a saúde a toda sorte de enfermos, quando sofria aqueles trabalhos, suportava o suor, a fome e a sede; nas vigílias noturnas passadas em oração a seu Pai amado; e, finalmente, nos discursos que pronunciava e nas parábolas que propunha, especialmente naquelas que tratam da misericórdia, como a da dracma perdida, a da ovelha desgarrada e a do filho pródigo. Nessas palavras e nessas obras, como diz Gregório Magno, manifesta-se o próprio coração de Deus. “Conhece o coração de Deus nas palavras de Deus, para que com mais ardor suspires pelas coisas eternas”.
Pois o seu coração bateu particularmente de amor e de pavor quando ele viu iminente a hora dos seus cruéis padecimentos, e quando experimentando uma repugnância natural às dores e à morte, exclamou: “Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice” (Mt 26,39); palpitou com amor invicto e com suma amargura quando, ao receber o beijo do traidor, dirigiu-lhe aquelas palavras que parecem o convite último do seu coração misericordioso ao amigo que com ânimo ímpio, infiel e obstinado, devia entregá-lo aos seus algozes: “Amigo, a que vieste? Com um beijo entregas o Filho do homem?” (Mt 26, 50; Lc 22, 48); palpitou de compaixão e de amor íntimo quando disse às piedosas mulheres que choravam a sua imerecida condenação ao suplício da cruz: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai por vós mesmas e por vossos filhos…, pois, se assim tratam a árvore verde, que se não fará à seca?” (Lc 23, 28.31).
A fim de que a devoção ao coração augustíssimo de Jesus produza frutos mais copiosos na família cristã e mesmo em toda a humanidade, procurem os féis unir a ela estreitamente a devoção ao coração imaculado da Mãe de Deus. Foi vontade de Deus que, na obra da redenção humana, a santíssima virgem Maria estivesse inseparavelmente unida a Jesus Cristo; tanto que a nossa salvação é fruto da caridade de Jesus Cristo e dos seus padecimentos, aos quais foram intimamente associados o amor e as dores de sua Mãe. Por isso, convém que o povo cristão, que de Jesus Cristo, por intermédio de Maria, recebeu a vida divina, depois de prestar ao sagrado coração o devido culto, renda também ao amantíssimo coração de sua Mãe celestial os correspondentes obséquios de piedade, de amor, de agradecimento e de reparação. Em harmonia com esse sapientíssimo e suavíssimo desígnio da divina Providência, nós mesmo, por ato solene, dedicamos e consagramos a santa Igreja e o mundo inteiro ao coração imaculado da santíssima Virgem Maria.
Fonte: Carta Encíclica “Haurietis Aquas”, do Papa Pio XII, referente ao Sagrado Coração de Jesus