Que serviço mais belo o do catequista, que anuncia a Palavra divina, que se une com amor, confiança e respeito ao próprio irmão, para ajudá-lo a descobrir e realizar os desígnios providenciais de Deus sobre ele.
Mas trata-se também de uma tarefa extremamente árdua e delicada, porque a catequese não é simples ensino, mas é transmissão de uma mensagem de vida, como jamais será possível encontrar em outras expressões do pensamento humano, mesmo sublimes.
Quem diz “mensagem”, diz algo mais do que doutrina. Quantas doutrinas de fato jamais chegam a ser mensagem! A mensagem não se limita a propor idéias: ela exige uma resposta, pois é interpelação entre pessoas, entre aquele que propõe e aquele que responde.
A mensagem é vida. Cristo anunciou a Boa Nova, a salvação e a felicidade: “Bem-aventurados os pobres em espírito, bem-aventurados os mansos, bem-aventurados os perseguidos…”(cf. Mt 5,3-11); e ainda: “Deixo-vos a minha paz, dou-vos minha alegria” (cf. Jo 14, 27; 15, 11).
O respeito a mensagem divina
Além disso, é preciso respeitar esta mensagem divina, pois o homem não é juiz da palavra e da obra de Deus (cf. Catechesi Tradendae, 17. 29. 30. 49. 52. 58. 59). Deve respeitá-la mantendo-se fiel, antes de tudo, a Cristo, à sua verdade, a seu mandato – sem isso haveria alteração, traição – e ao homem, destinatário da palavra e da mensagem do Senhor. E não ao homem abstrato, imaginário, mas ao homem concreto que vive no tempo, com seus dramas, suas esperanças. É a este homem que se deve anunciar o Evangelho, a fim de que nele e por ele receba do Espírito Santo a força para realizar-se plenamente, na integridade do seu ser e dos seus valores.
A eficácia da catequese, por conseguinte, dependerá em grande parte desta sua capacidade de dar um sentido, o sentido cristão a tudo aquilo que constitui a vida do homem em seu tempo, homem entre os homens, cidadão entre cidadãos.
A catequese na família
Nos primeiros anos de vida da criança, lançam-se a base e o fundamento do seu futuro. Por isso mesmo, devem os pais compreender a importância de sua missão a este respeito. Em virtude do batismo e do matrimônio são eles os primeiros catequistas de seus filhos: de fato, educar é continuar o ato de geração. Nesta idade, Deus passa de modo particular “através da intervenção da família” (Sacrae Congregationis Pro Clericis, Directorium Catechisticum Generale, 79).
As crianças tem necessidade de aprender e de ver os pais que se amam, que respeitam a Deus, que sabem explicar as primeiras verdades da fé (cf. Catechesi Tradendae, 36), que sabem apresentar o “conteúdo cristão” no testemunho e na perseverança de uma vida de todos os dias vivida segundo o Evangelho.
O testemunho é fundamental
A palavra de Deus é eficaz em si mesma, mas adquire sentido concreto quando se torna realidade na pessoa que anuncia. Isto vale de modo particular para as crianças que ainda não tem condições para distinguir entre a verdade anunciada e a vida daquele que a anuncia. Para a criança não há distinção entre a mãe que reza e a oração; mais ainda, a oração tem especial valor porque é a reza da mãe.
Não aconteça, diletíssimos pais que me ouvis, que vossos filhos cheguem à maturidade humana, civil e profissional, ficando crianças em assuntos de religião. Não é exato dizer que a fé é uma opção a fazer-se em idade adulta. A verdadeira opção supõe o conhecimento; e nunca poderá haver escolha entre coisas que não foram sábia e adequadamente propostas.
Pais catequistas, a Igreja tem confiança em vós, ela espera muito de vós.
A catequese paroquial
A paróquia é o lugar em que a catequese pode desdobrar toda a sua riqueza. Nela, a escuta da palavra se associa à oração, à celebração da Eucaristia e dos outros sacramentos, à comunhão fraterna e ao exercício da caridade. Nela, o mistério cristão é anunciado e vivido. Urge que cada paróquia se torne um lugar onde a catequese ocupa a maior das atenções e reencontre a própria vocação, que é a de ser uma casa de família, fraternal e acolhedora, onde os batizados e os confirmados tomam consciência de ser Povo de Deus.
O ensino religioso nas escolas
Na escola, o cidadão se forma através da cultura e da preparação profissional. A educação da consciência religiosa é um direito da pessoa humana. O jovem exige ser encaminhado para todas as dimensões da cultura e quer também encontrar na escola a possibilidade de tomar conhecimento dos problemas fundamentais da existência. Entre estes ocupa o primeiro lugar o problema da resposta que ele deve dar a Deus. Impossível chegar a autênticas opções de vida, quando se pretende ignorar a religião que tem tanto a dizer, ou então quando se quer restringi-la a um ensino vago e neutro e, por conseguinte, inútil, por ser destituído de relação a modelos concretos e coerentes com a tradição e a cultura de um povo.
A Igreja, ao defender esta incumbência da escola, não tem pensado nem pensa em privilégios: ela propugna por uma educação integral ampla e pelos direitos da família e da pessoa.
Os meios de comunicação social
Não podemos deixar de admirar seu enorme desenvolvimento. Por eles, a cultura chega a todos os recantos, já não há barreiras de espaço e de tempo. Penetram estes meios na intimidade dos lares e chegam aos lugares mais humildes e distantes.
São muitas as vantagens que oferecem: informam com rapidez, instruem, divertem, irmanam os homens, juntam à expressão racional a imagem, o símbolo, o contacto pessoal; a palavra se conjuga com a expressão estética e artística.
Seu poder é tal que dá força àquilo de que falam, e diminui o que silenciam. Podem ter os seus riscos como os da cultura nivelada e, por conseguinte, reduzida; da passividade e da emotividade e, por conseguinte, do depauperamento de senso crítico; da manipulação e, por conseguinte, do impulso à evasão e ao hedonismo.
Estes defeitos, no entanto, não estão ligados à técnica e seus meios, e sim ao homem que deles se serve. A catequese, que até agora teve expressa, sobretudo escrita, é convocada a exprimir-se sempre mais também através destes novos instrumentos. A tarefa é grande e de muita responsabilidade: é preciso agir nos meios de comunicação e ao mesmo tempo educar para o uso destes instrumentos (cf. Inter Mirifica, 3). Construiremos a Igreja também à medida que soubermos trabalhar neste campo.
Formação para os Catequistas
Filhos diletíssimos, pouco valor teria uma catequese, mesmo substanciosa e segura, se não for transmitida com eficiência de expressão e apoio daqueles subsídios didáticos que hoje se apresentam sempre mais ricos e sugestivos. A catequese exige uma “ars docendi” especial, uma pedagogia própria. Para possui-la não basta a informação comum, muitas vezes aproximativa e empírica, como a pode ter qualquer sacerdote ou religioso ou qualquer leigo que tem instrução religiosa.
Muitos elementos culturais, didáticos e sobretudo morais são necessários, para dar ao catequista o prestígio e a eficiência que o devem qualificar. Não há, porventura, aqui o perigo que, na falta de tais exigências, o ensino catequético não só fique infrutífero, mas por vezes até nocivo? Por isso verificamos com grande satisfação que também entre vós aparecem e se multiplicam as escolas de catequese, para possibilitar aos catequistas uma preparação doutrinal, didática e espiritual progressivamente atualizada. Assim compreendereis que eu, cheio de viva esperança acompanhada de insistente oração, formule os meus votos calorosos pelo feliz e fecundo êxito de todas estas acertadas iniciativas.
Fonte: Parte da Homilia de São João Paulo II para Catequistas. Porto Alegre, 05 de Julho de 1980.