“Ide, pois, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt. 28, 19).

A Igreja celebra hoje a festa do Batismo de Cristo. […] O Evangelho segundo Marcos, como os outros sinóticos, narra o batismo de Jesus no rio Jordão. A Liturgia da Epifania recorda este acontecimento, apresentando-o num tríptico que engloba a adoração dos Magos do Oriente e as bodas de Caná. Cada um destes três momentos da vida de Jesus de Nazaré constitui uma particular revelação da Sua filiação divina. As Igrejas Orientais ressaltam sobretudo a circunstância hodierna, denominada, em síntese, “Jordão”. Consideram-na como um momento da “manifestação” de Cristo, intimamente relacionado com o Natal. A Liturgia oriental, aliás, põe em relevo, mais que o nascimento de Jesus em Belém, a sua revelação como Filho de Deus. Revelação que se verificou com singular intensidade precisamente durante o batismo no Jordão.

O que João Batista conferia nas margens do Jordão era um batismo de penitência, referente à conversão e ao perdão dos pecados. Mas ele anunciava: “Depois de mim, vai chegar outro que é mais poderoso do que eu… Eu vos batizarei em água, mas Ele batizar-vos-á no Espírito Santo” (Mc. 1, 7-8). Anunciava isto a uma multidão de penitentes, que iam ter com ele para lhe confessar os seus pecados, arrependendo-se e dispondo-se a corrigir a própria vida.

É de outra natureza o Batismo conferido por Jesus e que a Igreja, fiel ao seu mandamento, não cessa de administrar. Este Batismo liberta o homem do pecado original e perdoa os pecados, resgata-o da escravidão do mal e assinala o seu renascimento no Espírito Santo; comunica-lhe uma vida nova, que é participação na vida de Deus Pai, que nos foi doada pelo seu Filho Unigênito, o qual Se fez homem, morreu e ressuscitou.

No momento em que Jesus sai da água, o Espírito Santo desce sobre Ele em forma de pomba e, tendo-se aberto o céu, do alto ouve-se a voz do Pai: “Tu és o Meu Filho muito amado, em Ti pus toda a Minha complacência” (Mc. 1, 11). Por conseguinte, o acontecimento do batismo de Cristo não é apenas revelação da sua filiação divina, mas é, ao mesmo tempo, revelação de toda a Santíssima Trindade: o Pai — a voz do alto — revela em Jesus o Filho Unigênito que Lhe é consubstancial, e tudo isto se cumpre em virtude do Espírito Santo que, sob forma de pomba, desce sobre Cristo, o Consagrado do Senhor.

Nos Atos dos Apóstolos lemos acerca do batismo administrado pelo apóstolo Pedro ao Centurião Cornélio e aos seus familiares. Deste modo, Pedro põe em ato as recomendações que Cristo ressuscitado faz aos seus discípulos: “Ide, pois, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt. 28, 19). O Batismo na água e no Espírito Santo é o primeiro e fundamental sacramento da Igreja, sacramento da vida nova em Cristo.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, ao recebermos o Batismo tornamo-nos membros vivos da Igreja. Antes de tudo, somos ungidos com o óleo dos catecúmenos, sinal da fortaleza branda de Cristo, a nós doada para lutar contra o mal. Depois, sobre nós é derramada a água benta, sinal da purificação interior mediante o dom do Espírito Santo, que Jesus efundiu ao morrer na cruz. Imediatamente depois recebemos uma segunda e mais importante unção com o “crisma”, o qual indica que somos consagrados à imagem de Jesus, o Ungido do Pai. Em seguida, nossa vela é acesa no círio pascal, símbolo da luz da fé que devemos continuamente guardar e alimentar, com a graça vivificante do Espírito.

Pedimos à Virgem Maria que interceda por nós e que, revestidos com a veste branca, sinal da nova dignidade de filhos de Deus, sejamos durante toda a vida autênticos cristãos e testemunhas corajosas do Evangelho. Amém!

Fonte: Homilia sobre o Batismo de Jesus – São João Paulo II – 12 de Janeiro de 1997