Como a samaritana no poço

Deixemo-nos iluminar por uma página do Evangelho: o encontro de Jesus com a mulher samaritana (cf. Jo 4, 5-42). Não há homem nem mulher que, na sua vida, não se encontre, como a mulher da Samaria, ao lado de um poço com uma ânfora vazia, na esperança de encontrar que seja satisfeito o desejo mais profundo do coração, o único que pode dar significado pleno à existência. Hoje são muitos os poços que se oferecem à sede do homem, mas é preciso discernir para evitar águas poluídas. É urgente orientar bem a busca, para não ser vítima de desilusões, que podem arruinar. Como Jesus no poço de Sicar, também a Igreja sente que se deve sentar ao lado dos homens e mulheres deste tempo, para tornar presente o Senhor na sua vida, para que o possam encontrar, porque só o seu espírito é a água que dá a vida verdadeira e eterna. Só Jesus é capaz de ler no fundo do nosso coração e de nos revelar a nossa verdade: “Disse-me tudo o que fiz”, confessa a mulher aos seus concidadãos. E esta palavra de anúncio — à qual se junta a pergunta que abre à fé: “Será Ele o Cristo?” — mostra como quem recebeu a vida nova do encontro com Jesus, por sua vez não pode deixar de se tornar anunciador de verdade e de esperança para os outros. A pecadora convertida torna-se mensageira de salvação e conduz a Jesus toda a cidade. Do acolhimento do testemunho o povo passará à experiência pessoal do encontro: “Já não é pelas tuas palavras que nós cremos, mas porque nós mesmos ouvimos e sabemos que Ele é deveras o salvador do mundo”.

Uma nova evangelização

Guiar os homens e as mulheres do nosso tempo a Jesus, ao encontro com Ele, é uma urgência em todas as regiões do mundo, de antiga e de recente evangelização. De fato, em toda a parte se sente a necessidade de reavivar uma fé que corre o risco de se ofuscar em contextos culturais que obstam à sua radicação pessoal e a presença social, a clareza dos conteúdos e os frutos coerentes.

Não se trata de começar tudo do início, mas — com o ânimo apostólico de Paulo, o qual chega a dizer: “Ai de mim se não anuncio o Evangelho!” (1 Cor 9, 16) — mas de se inserir no longo caminho de proclamação do Evangelho que, desde os primeiros séculos da era cristã até aos nossos dias, percorreu a história e edificou comunidades de crentes em todas as partes do mundo. Pequenas ou grandes, elas são o fruto da dedicação de missionários e de muitos mártires, de gerações de testemunhas de Jesus às quais vai o nosso pensamento reconhecido.

Os mudados cenários sociais, culturais, econômicos, políticos e religiosos chamam-nos a algo novo: a viver de modo renovado a nossa experiência comunitária de fé e o anúncio, mediante uma evangelização “nova no seu fervor, nos seus métodos, nas suas expressões”, como disse João Paulo II, uma evangelização que, recordou Bento XVI, se dirige “principalmente às pessoas que, mesmo sendo batizadas se afastaram da Igreja, e vivem sem fazer referência à prática cristã […], para favorecer nestas pessoas um novo encontro com o Senhor, o único que enche de significado profundo e de paz a nossa existência; para favorecer a redescoberta da fé, nascente de graça que dá alegria e esperança à vida pessoal, familiar e social”.

Fonte: Parte da mensagem final da XIII Assembleia geral ordinária dos Bispos, ao povo de Deus. Publicado por: L’Osservatore Romano, ed. em Português, n. 44, 03 de Novembro de 2012