«A Deus que Se revela é devida “a obediência da fé” (Rm 16, 26; cf. Rm 1, 5; 2 Cor 10, 5-6); pela fé, o homem entrega-se total e livremente a Deus oferecendo “o obséquio pleno da inteligência e da vontade” e prestando voluntário assentimento à sua revelação» (Constituição dogmática Dei Verbum ).
A resposta própria do homem a Deus, que fala, é a fé. Isto coloca em evidência que, «para acolher a Revelação, o homem deve abrir a mente e o coração à ação do Espírito Santo que lhe faz compreender a Palavra de Deus presente nas Sagradas Escrituras» De fato, é precisamente a pregação da Palavra divina que faz surgir a fé, pela qual aderimos de coração à verdade que nos foi revelada e entregamos todo o nosso ser a Cristo:
«A fé vem da pregação, e a pregação pela palavra de Cristo» (Rm 10, 17).
Toda a história da salvação nos mostra progressivamente esta ligação íntima entre a Palavra de Deus e a fé que se realiza no encontro com Cristo. De fato, com Ele a fé toma a forma de encontro com uma Pessoa à qual se confia a própria vida. Cristo Jesus continua hoje presente, na história, no seu corpo que é a Igreja; por isso, o ato da nossa fé é um ato simultaneamente pessoal e eclesial.
A Palavra de Deus revela inevitavelmente também a dramática possibilidade que tem a liberdade do homem de subtrair-se a este diálogo de aliança com Deus, para o qual fomos criados. De fato, a Palavra divina desvenda também o pecado que habita no coração do homem. Muitas vezes encontramos, tanto no Antigo como no Novo Testamento, a descrição do pecado como não escuta da Palavra, como ruptura da Aliança e, consequentemente, como fechar-se a Deus que chama à comunhão com Ele. Com efeito, a Sagrada Escritura mostra-nos como o pecado do homem é essencialmente desobediência e «não escuta».
Precisamente a obediência radical de Jesus até à morte de Cruz (cf. Fl 2, 8) desmascara totalmente este pecado. Na sua obediência, realiza-se a Nova Aliança entre Deus e o homem e concedida a nós a possibilidade da reconciliação. Jesus foi mandado pelo Pai como vítima de expiação pelos nossos pecados e pelos do mundo inteiro (cf. 1 Jo 2, 2; 4, 10; Hb 7, 27). Assim, nos é oferecida misericordiosamente a possibilidade da redenção e o início de uma vida nova em Cristo. Por isso, é importante que os fiéis sejam educados a reconhecer a raiz do pecado na não escuta da Palavra do Senhor e a acolher em Jesus, Verbo de Deus, o perdão que nos abre à salvação.
Desconhecer a Escritura é desconhecer o próprio Cristo que nos fala. Tenhamos o propósito de viver sempre a leitura da Liturgia Diária, que nos dá a Palavra de cada dia, e rezemos com o que Ele nos fala através das leituras e do evangelho. Lembre-se, ele fala conosco, nos ensina, nos consola , nos cura, nos enche de sua voz. Faça a experiência, e veja se Ele não abr as portas do céus sobre você e sua casa!
Referência: Exortação Apóstolica Pós -Sinodal Verbum Domini – Bento XVI