O trabalho humano tem uma dúplice dimensão: objetiva e subjetiva.
Objetivamente o trabalho é o conjunto de atividades humanas, os recursos, instrumentos e técnicas de que o homem se serve para produzir, para dominar a terra, segundo as palavras do Livro do Gênesis.
Em sentido subjetivo, o trabalho, é o agir e a vocação do homem que confere ao trabalho uma peculiar dignidade e que impede de considerá-lo como uma simples mercadoria ou um elemento impessoal da organização produtiva. O trabalho, independentemente do seu menor ou maior valor objetivo, é expressão essencial da pessoa, é “actus personae”.
A finalidade do trabalho é o homem
Qualquer forma de materialismo e de economicismo que tentasse reduzir o trabalhador a mero instrumento de produção, a simples força de trabalho, a valor exclusivamente material, acabaria por desnaturar irremediavelmente a essência do trabalho, privando-o da sua finalidade mais nobre e profundamente humana. A pessoa é o parâmetro da dignidade do trabalho: “Não há dúvida nenhuma, realmente, de que o trabalho humano tem um seu valor ético, o qual, sem meios termos, permanece diretamente ligado ao fato de aquele que o realiza ser uma pessoa” (Laborem exercens, 6 ).
O trabalho não somente procede da pessoa, mas é também essencialmente ordenado e finalizado a ela.
Independentemente da atividade exercida, o trabalho deve ser orientado para o sujeito que o realiza, pois a finalidade do trabalho, de qualquer trabalho, permanece sempre o homem. Ainda que não possa ser ignorada a importância da componente objetiva do trabalho sob o aspecto da sua qualidade, tal componente, todavia, deve ser subordinada à realização do homem, e portanto à dimensão subjetiva, graças à qual é possível afirmar que o trabalho é para o homem e não o homem para o trabalho e que “a finalidade do trabalho”, de todo e qualquer trabalho realizado pelo homem — ainda que seja o trabalho mais humilde de um “serviço” e o mais monótono na escala do modo comum de apreciação e até o mais marginalizador — permanece sempre o mesmo homem” (CIC 2428).
O homem deve trabalhar
O trabalho é também “uma obrigação, ou seja, um dever do homem” (Laborem exercens, 16). O homem deve trabalhar seja porque o Criador lho ordenou, seja para responder às exigências de manutenção e desenvolvimento da sua mesma humanidade. O trabalho se perfila como obrigação moral em relação ao próximo, que é em primeiro lugar a própria família, mas também à sociedade, à qual se pertence; à nação, da qual se é filho ou filha; a toda a família humana, da qual se é membro: somos herdeiros do trabalho de gerações e ao mesmo tempo artífices do futuro de todos os homens que viverão depois de nós.
O trabalho confirma a profunda identidade do homem criado à imagem e semelhança de Deus:
“O homem, ao tornar-se — mediante o seu trabalho — cada vez mais senhor da terra, e ao consolidar — ainda mediante o trabalho — o seu domínio sobre o mundo visível, em qualquer hipótese e em todas as fases deste processo, permanece na linha daquela disposição original do Criador, a qual se mantém necessária e indissoluvelmente ligada ao fato de o homem ter sido criado, como varão e mulher, ‘à imagem de Deus’”. Isto qualifica a atividade do homem no universo: ele não é seu proprietário, mas o fiduciário (tem posse indireta), chamado a refletir no próprio agir o sinal d’Aquele de que é imagem.
Fonte: Parte do Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Pontifício Conselho “Justiça e Paz” – CAPÍTULO VI, sobre o Trabalho Humano.