São Paulo compreendeu que Jesus tinha morrido e ressuscitado por todos e por ele mesmo. Ambas as realidades eram importantes; a universalidade: Jesus morreu realmente por todos; e a subjetividade: Ele morreu também por mim. Portanto, na Cruz manifestou-se o amor gratuito e misericordioso de Deus. Paulo experimentou este amor em si mesmo e, de pecador, tornou-se crente; de perseguidor, Apóstolo. Ele experimentou que a salvação era “graça”, que tudo derivava da morte de Cristo, e não dos seus méritos, que de resto não existiam. Assim, o “Evangelho da graça” tornou-se para ele o único modo de compreender a Cruz.
O tema da Cruz de Cristo torna-se um elemento essencial e primário da pregação do Apóstolo: o exemplo mais claro diz respeito à comunidade de Corinto. Paulo apresenta-se não com sublimidade de palavras ou de sabedoria, mas com o anúncio de Cristo, de Cristo crucificado. A sua força não é a linguagem persuasiva mas, a debilidade e a trepidação de quem se confia ao “poder de Deus”. O Apóstolo afirma com uma força impressionante, que é bom ouvir das suas próprias expressões: “Porque a linguagem da Cruz é loucura para aqueles que se perdem, mas poder de Deus para os que se salvam, isto é, para nós… aprouve a Deus salvar os fiéis por meio da loucura da pregação. Enquanto os judeus pedem sinais e os gregos buscam a sabedoria, nós anunciamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos” (1 Cor 1, 18-23).
O Apóstolo quer recordar a todos nós, que o Ressuscitado é sempre Aquele que foi crucificado. O “escândalo” e a “loucura” da Cruz encontram-se precisamente no fato de que onde parece existir somente falência, dor e derrota, exatamente ali está todo o poder do Amor ilimitado de Deus, porque a cruz é expressão de amor, e o amor é o verdadeiro poder que se revela precisamente nesta aparente debilidade.
A Cruz revela “o poder de Deus”, que é diferente do poder humano; com efeito, revela o seu amor: “O que é considerado como loucura de Deus é mais sábio que os homens, e o que é tido como debilidade de Deus é mais forte que os homens”. O Crucifixo é sabedoria, porque manifesta verdadeiramente quem é Deus, ou seja, poder de amor que chega até à Cruz para salvar o homem. O Crucifixo releva, por um lado, a debilidade do homem e, por outro, o verdadeiro poder de Deus, ou seja, a gratuidade do amor: precisamente esta total gratuidade do amor é a verdadeira sabedoria. Podemos encontrar a nossa força precisamente na humildade do amor, e a nossa sabedoria na debilidade de renunciar para entrar assim na força de Deus. Todos nós devemos formar a nossa vida sobre esta verdadeira sabedoria: não viver para nós mesmos, mas viver na fé naquele Deus, de quem todos nós podemos dizer: “Amou-me e entregou-se por mim!”.
Fonte: Parte da Audiência Geral, Papa Emérito Bento XVI, 2008