No ano de 1917, a Santíssima Virgem apareceu a Lúcia, Francisco e Jacinta, os três pastorinhos, em Fátima, Portugal.
Os pastorinhos sofreram pressões terríveis, a começar pelas suas famílias, que a princípio não creram nas suas palavras. As autoridades civis também pressionaram as três crianças para desmentir as aparições da Santíssima Virgem, depois tentaram fazê-las dizer o segredo que ela lhes havia revelado, mas estas resistiram bravamente e não o contaram. Até mesmo autoridades da Igreja local desconfiaram da veracidade das aparições e interrogaram exaustivamente as três crianças, no intuito de encontrar alguma incoerência que pudesse provar que elas mentiam.
Em 1916, ano anterior às aparições, um anjo apareceu, por três vezes, aos pastorinhos. Francisco tinha na época 8 anos de idade, sua irmã Jacinta, 6 anos e Lúcia, 9 anos. Na Segunda e Quarta Memórias da Irmã Lúcia, redigidas respectivamente em 1937 e 1941, ela deixa o registro mais completo das aparições do Anjo, por três vezes, na primavera, verão e outono de 1916, a ela e aos amigos: Jacinta e Francisco. O anjo apresentou-se como Anjo da Paz e ainda como Anjo de Portugal, e convidou as três crianças a uma vida comprometida com os “desígnios de misericórdia” de Deus. Estas três aparições do Anjo da Paz foram como que uma preparação para as aparições da Santíssima Virgem e para os sofrimentos que passariam depois.
A promessa cumprida a respeito da morte dos três pastorinhos
No ano seguinte às aparições de Nossa Senhora, no dia 18 de outubro de 1918, Francisco adoeceu de gripe pneumônica, mais conhecida como gripe espanhola. Francisco recebe o sacramento da Penitência, ou Reconciliação, no dia 2 de abril de 1919 e o Viático no dia seguinte. Francisco faleceu no dia 4 de abril. No seu registro paroquial, encontra-se o seguinte aditamento:
“O Francisco – Vidente – faleceu às dez horas da noite, do dia 4 de abril corrente, vitimado por uma prolongada ralação de 5 meses de pneumônica, tendo recebido os Sacramentos com grande lucidez e piedade – E confirmou que tinha visto uma Senhora na Cova da Iria e Valinho”.
Conforme prometeu a Virgem Maria, Francisco, e pouco tempo depois Jacinta, a veriam logo no Reino dos Céus. Jacinta, a mais nova dos três pastorinhos, adoeceu como seu irmão Francisco, no outono de 1918. Na tarde de 20 de fevereiro, por volta das 6 horas da tarde, a pequena menina disse que se sentia mal e que desejava receber os Sacramentos. Foi chamado um Sacerdote, que ouviu sua confissão por volta das 8 horas da noite. Jacinta insistiu para que levassem o Sagrado Viático, mas o Padre não concordou, pois ela estava aparentemente bem, e prometeu levar-lhe nosso Senhor no dia seguinte. Mas, a pequena Jacinta insistiu em pedir a Comunhão, dizendo que logo morreria. Conforme tinha dito, Jacinta faleceu por volta das 10 e meia da noite, em santa paz e tranquilidade, mas sem ter comungado.
Lúcia, a mais velha das três crianças, conforme lhe fora dito pela Virgem do Rosário, viveria mais que Francisco e Jacinta, pois tinha uma missão: propagar a devoção ao Imaculado Coração de Maria. Lúcia estudou e tornou-se religiosa, passando por três conventos. Ela escreveu vários relatos das aparições, procurando ser o mais fiel possível às palavras ditas por Nossa Senhora. A Irmã Lúcia carregou sozinha o peso de guardar o segredo de Fátima, respondeu aos interrogatórios canônicos acerca das aparições, com humildade e espírito de obediência, mas, ao mesmo tempo, permaneceu firme da promessa de não revelar o segredo que lhe fora confiado pela Virgem Maria. Depois de uma vida cheia de sofrimentos e de muitos desafios, a Irmã Lúcia faleceu no Carmelo, em Coimbra, no dia 13 de Fevereiro de 2005.
As aparições da Virgem em Fátima
Em seis ocasiões, entre maio e outubro de 1917, a Virgem apareceu a três crianças, Lúcia, Francisco e Jacinta, num descampado perto de Fátima, em Portugal.
A primeira vez foi em 13 de maio, quando elas cuidavam dos rebanhos de ovelhas da família. Conforme escreveu a Irmã Lúcia, tratava-se de “uma Senhora toda vestida de branco, mais brilhante que o sol, espargindo luz mais clara e intensa que um copo de cristal cheio de água cristalina, atravessado pelos raios do sol mais ardente”. Seu semblante era de uma indescritível beleza, nem triste nem alegre, mas sério, talvez com uma suave expressão de ligeira censura. “Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13, a esta mesma hora. Depois vos direi quem sou e o que quero. Depois voltarei ainda aqui uma sétima vez.”
Na aparição de 13 de junho, a Virgem disse que Jacinta e Francisco morreriam em breve, e assim aconteceu. Lúcia, entretanto, deveria ficar na terra: “Jesus quer servir-Se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração”.
Na visão de 13 de julho, a Virgem revelou o famoso “segredo de Fátima”. Trataremos dele adiante.
Pouco antes da aparição de agosto, o administrador regional sequestrou as três crianças, ameaçando-as de usar violência se não negassem as aparições ou revelassem o segredo. Elas chegaram a passar a noite na prisão.
Em 13 de outubro de 1917, data da última aparição, 70 mil pessoas se reuniram em Fátima. A Virgem havia prometido um sinal para que todos pudessem acreditar e, com efeito, a multidão pôde testemunhar o “milagre do sol”: o astro “dançou no céu” e pareceu precipitar-se sobre a terra. Esse fenômeno foi observado num raio de até 40 quilômetros do local das aparições.
Poucos anos depois, Jacinta e Francisco morreram, como Nossa Senhora predissera. Em 1925, Lúcia entrou para a Congregação das Irmãs Dorotéias. Quando estava no noviciado, em Pontevedra, a Virgem lhe apareceu, a fim de pedir o estabelecimento da prática da devoção da Comunhão Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados: confessar-se, comungar, rezar um terço e fazer quinze minutos de companhia a Ela meditando nos Mistérios do Rosário com o fim de desagravar o seu Imaculado Coração. Noutra aparição, Nossa Senhora pediu que o Papa, em união com todos os Bispos do mundo, consagrasse a Rússia a seu Imaculado Coração. Em 1948, Lúcia transferiu-se para o Carmelo de Coimbra.
Atendendo solicitação das autoridades da Igreja, redigiu quatro relatos das aparições, o último dos quais, de 1941, bastante minucioso.
Cabe ressaltar que as aparições de Fátima de tal modo são marcadas pelos sinais da autenticidade que receberam uma atenção particular da Igreja Católica. É sabido que as autoridades eclesiásticas sempre observam uma cuidadosa distância com relação a revelações privadas. Fátima, no entanto, constitui uma das raras exceções a essa regra, havendo sido favorecida por manifestações de todos os Papas, desde Pio XI, passando por Pio XII, João XXIII e Paulo VI.
Por certo o Pontífice mais envolvido com ela foi João Paulo II. Ele chegou a visitar três vezes o local das aparições, encontrando-se com a Irmã Lúcia, interveio pessoalmente para apressar a beatificação de Francisco e Jacinta e declarou taxativamente que “a Igreja aceitou a mensagem de Fátima” (13/5/1982).
O “Segredo de Fátima”
O famoso segredo era dividido em três partes. Na primeira foi mostrado aos pastorinhos o inferno, no qual podiam ver as almas dos condenados em forma de brasas transparentes e negras boiando num espantoso mar de fogo. Para salvar os pecadores, dizia a Virgem, “Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração”. Se a humanidade seguisse seus conselhos, muitas almas se salvariam e se obteria a paz. Do contrário, “no reinado de Pio XI” (1922-1939) viria uma segunda guerra mundial, muito pior do que a primeira. Deus iria punir o mundo por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Papa.
Na segunda parte do segredo, Nossa Senhora disse que, se seus pedidos não fossem atendidos, a Rússia espalharia seus erros pelo mundo (o comunismo), promovendo guerras e perseguições à Igreja; os bons seriam martirizados, o Santo Padre teria muito que sofrer e muitas nações seriam aniquiladas. Terminava dizendo: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. A Rússia se converterá e o mundo terá um tempo de paz”.
A terceira parte do segredo sempre causou sensação, mesmo porque Lúcia não o havia revelado. Entretanto, enviou um relato dele ao Vaticano, num envelope lacrado, com instruções estritas de que fosse aberto em 1960.
Mas esse segredo só foi revelado no ano 2000, por determinação de João Paulo II. Em resumo, tratava-se de um novo convite à conversão e à penitência, acompanhado da visão de um Papa que caminha, vacilante e trêmulo, atravessando uma cidade em ruínas e juncada de cadáveres. Seguido por uma multidão de bispos, padres, religiosos e fiéis, sobe uma escabrosa colina em cujo topo está uma cruz. Ao chegarem ao alto, todos são massacrados por soldados inimigos a tiros e flechadas.
A Igreja sugeriu que isso poderia ser uma alegoria relativa ao atentado contra João Paulo II, na Praça de S. Pedro, em 1981, mas deixava livre a interpretação do complexo texto, admitindo poder referir-se a acontecimentos vindouros. De qualquer modo, o Papa atribuiu sua salvação à Santíssima Virgem, e até entregou ao Bispo de Leiria-Fátima a bala que hoje se encontra na coroa da Imagem.
De nossa parte, parece-nos mais importante voltar nossa atenção para a esperançosa promessa da Virgem: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”. Aconteça o que acontecer, não devemos temer: com toda confiança, atendamos aos pedidos feitos pela Virgem em Fátima, e tenhamos certeza de que Ela cuidará de nós como de filhos muito queridos.
Fonte: Parte da edição da Revista Arautos do Evangelho, Março/2005, n. 39, p. 20 à 23.
