Se se considerar o Sacramento da Penitência, há tantas Confissões distorcidas, tantas desculpas estudadas, tantos arrependimentos enganadores, tantas falsas promessas, tantas resoluções ineficazes, tantas absolvições inválidas!
Consideraríeis válida a Confissão de alguém que se acusa de pecados de impureza e continua ainda agarrado às ocasiões de os cometer? Ou a de alguém que se acusa de injustiças óbvias e que não tem a menor intenção de fazer uma qualquer reparação por elas? Ou a de alguém que recai de novo nas mesmas iniquidades logo depois de ir à Confissão?

Oh, que horríveis abusos de um tão grande Sacramento!

Um confessa-se para evitar a excomunhão, outro para ter uma reputação de penitente. Um descarta os seus pecados para acalmar os remorsos, outro esconde-os por vergonha. Um acusa-os imperfeitamente por malícia, outro revela-os por hábito. Um não tem presente na sua mente o verdadeiro fim do Sacramento, outro não tem o arrependimento necessário, e outro ainda o firme propósito de não voltar a pecar.

Confissão na hora da morte

Pobres confessores, que esforços fazeis para levardes o maior número possível de penitentes àquelas resoluções e atos sem os quais a Confissão é um sacrilégio, a absolvição uma condenação e a penitência uma ilusão! Onde estão eles agora, aqueles que acreditam que, de entre os Cristãos, o número dos que se salvam é maior do que o daqueles que se condenam e que, para autorizar a sua opinião, raciocinam assim: a maior parte dos Católicos adultos morre nas suas camas, armados com os Sacramentos da Santa Igreja, logo, a maior parte dos Católicos adultos salva-se? Oh, que grande raciocínio! Deveis dizer exatamente o contrário. A maior parte dos Católicos adultos confessa-se mal à hora da morte; portanto, a maior parte deles se condena.

Dificuldade da confissão na hora da morte

E digo “quanto mais certo,” porque um moribundo que não se confessou bem quando tinha saúde terá ainda mais dificuldade em o fazer quando está de cama com um coração pesado, uma cabeça fraca, uma mente baralhada; quando tem a oposição, de muitas maneiras, de objetos ainda vivos, de ocasiões ainda frescas, de hábitos adotados, e acima de tudo de demônios que procuram todos os meios para o lançar no Inferno.

Morte inesperada

Ora, se juntardes a todos estes falsos penitentes todos os outros pecadores que morrem inesperadamente em pecado, por ignorância dos médicos ou por culpa dos parentes, que morrem por envenenamento ou por ficarem enterrados em terramotos, ou de uma síncope, ou de uma queda, ou no campo de batalha, numa briga, apanhados numa armadilha, fulminados pelo relâmpago, queimados ou afogados, não sois obrigados a concluir que a maior parte dos Cristãos adultos se condena? É este o raciocínio de S. João Crisóstomo. Este Santo diz que a maioria dos Cristãos, através da sua vida, caminha pela estrada que vai dar ao inferno. Porquê, então, ficais tão surpreendidos com o fato de o maior número ir para o inferno?

A Misericórdia no momento final

Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram.” (Mt 7,13-14)
Para chegar a uma porta, vós deveis tomar o caminho que ali conduz. O que tendes a responder a uma razão tão poderosa? A resposta, dir-me-ão, é que a misericórdia de Deus é grande. Sim, para aqueles que O temem, como diz o Profeta; mas grande é também a Sua Justiça para com aqueles que não O temem, e ela condena todos os pecadores obstinados.

 

Fonte: PORT MAURICE S. Leonardo. Sermão intitulado: O pequeno número daqueles que são salvos. Editora Santa Cruz. 2016.