Ser consagrado é ser profeticamente o Cristo casto, pobre e obediente. Na castidade revelamos que Cristo é nosso único Amor, na pobreza revelamos que Cristo é nossa única Riqueza e, na obediência Cristo é nosso único Querer. Essas três dimensões são antídotos para as tentações do ter, do poder e do prazer.
O homem que não é tentado não se salva, já diziam os padres do deserto, pois é exatamente nas tentações que o consagrado tem a oportunidade de por em prática a sua fidelidade a Deus. As dimensões da pobreza, da obediência e da castidade são antídotos para as tentações do ter, do poder e do prazer.
A tentação do prazer:
A castidade é o antídoto para tentação do prazer. É preciso dizer que castidade significa integridade nas áreas físicas, psíquicas, espirituais e na ortodoxia da fé. O homem casto é integro, é puro e equilibrado no sentir, no pensar e no falar; precisamente por isso Jesus vence esta tentação dizendo: “Não só de pão vive o homem, mas de toda a Palavra de Deus “(Lc 4,4).“Observe que o diabo propõe a Jesus que transforme uma pedra em pão, para saciar a fome. Jesus afirma que o homem vive também de pão, mas não só de pão: sem uma resposta à fome de verdade, à fome de Deus, o homem não se pode salvar”.
Quando falta a castidade, falta a verdade, falta Deus. Por exemplo, se não somos castos nos pensamentos, todos os nossos relacionamentos ficam comprometidos e tornamo-nos incapazes de viver integralmente a fé. Contemplando o Cristo casto no calvário o consagrado recebe a força para viver o compromisso da castidade.
A tentação do ter:
A pobreza aparece como antídoto para a tentação do ter, possuir e do dominar. A vida consagrada é chamada a viver a pobreza e a escolher Jesus como sua única riqueza. Quando tentado, o Senhor diz: “Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás”(Lc4,8). “Na segunda tentação, o diabo propõe a Jesus o caminho do poder: conduziu-o para o alto e oferece-lhe o domínio do mundo; mas não é este o caminho de Deus: para Jesus é evidente que não é o poder mundano que salva o mundo, mas o poder da cruz, da humildade e do amor.”.  A pobreza é uma constante luta, todos os sentidos do homem anseiam por possuir, consumir, degustar, além disso, grandes apegos podem esconder-se por detrás de uma vida de ‘pobreza’, pois a verdadeira pobreza não se confunde com a miséria, mas anda de mãos dadas com a humildade.
A tentação do poder:
“Na terceira tentação, o diabo propõe a Jesus que se lance do pináculo do Templo de Jerusalém para se fazer salvar por Deus mediante os seus anjos, ou seja, que realize algo de sensacional para pôr à prova o próprio Deus; mas a resposta é que Deus não é um objeto ao qual impor as nossas condições: é o Senhor de tudo”.
Quem é o Senhor de minha vida? Ser reconhecido, elogiado, dono de si é uma grande tentação para o homem que se consagra a Deus. A autonomia faz a frente neste combate entre o homem novo e o velho homem: os ‘direitos’, as ‘mordomias’, e as ‘concessões mais ou menos lícitas’ vão tornando a consagração vazia e cheia de permissões individuais; nesta dimensão a obediência é um antídoto oportuno para a tentação do poder. Obedecendo as regras, as normas e as constituições o consagrado vai ordenando sua vontade de acordo com a vontade de Deus.
Conclusão:
Qual é o núcleo das três tentações que Jesus sofre? É a proposta de instrumentalizar Deus, de o usar para os próprios interesses, glória e sucesso. E portanto, nomeadamente, de se colocar no lugar de Deus, removendo-o da sua existência e fazendo-o parecer supérfluo. Então, cada um deveria interrogar-se: que lugar tem Deus na minha vida? O Senhor é Ele, ou sou eu?