Como é seu exame de consciência?
A prática do exame de consciência foi se perdendo aos poucos na vida da Igreja, e, quando acontece é somente  no fim do dia, quando já estamos cansados, assim, tornou-se uma “gata borralheira” nas nossas “práticas de piedade”, feito às pressas e mal, segundo um “script” fixo e muito pobre, muitas vezes superado ou associado exclusivamente à confissão.
Qual sua importância?
O exame de consciência tem uma função insubstituível no processo de conversão do consagrado. Quando não conhecemos sinceramente nosso universo interior, corremos o risco de não aceitar a verdade de nossa humanidade decaída; de desconhecermos o pecado que habita em nós, de ignorá-lo, descarregá-lo nos outros ou ficarmos esmagados por ele.
É preciso aprender a reconhecer o pecado dento de nós, e descobri-lo em suas camuflagens, convencidos de que nesse campo somos sempre aprendizes.
Quem ignora a importância do exame de consciência pensa que se trata de uma prática para crianças que vão fazer a primeira comunhão ou para noviças principiantes (para depois fazer confissões tão iguais que já não se vê mais o sentido que elas têm e perde até a vontade de fazê-las).
Quando e como devemos fazer o exame de consciência?
A consciência do pecado deve acontecer todos os dias diante da Palavra de Deus. O exame de consciência é oração. Se orar quer dizer estar diante de Deus na verdade do nosso ser, o exame de consciência significa exatamente isto: é encontrar-se com Deus através de nós mesmos, ou deixar que Deus venha ao nosso encontro com aquela palavra que nos escruta, nos conhece e revela o que somos.
É importante salientar que o exame de consciência não é uma autoanálise perfeccionista, com possível resultado depressivo, é, pelo contrário, um pôr-se diante de Deus, com a certeza de que olhar dentro de si com honestidade, deixando que Ele nos veja como somos, é fonte de uma paz profunda. É um “reentrar em nós mesmos” sob o olhar de quem nos ama e nos conhece intimamente, em um diálogo que é, sobretudo escuta da Palavra.
Um bom exame de consciência é, portanto, feito diante da palavra: é a regra fundamental. Por quê? Porque só a palavra de Deus pode me dizer o que é bom e o que é mau. Além disso, Deus confiou a cada um uma vocação a realizar, que só pode ser compreendida tendo a Palavra como pano de fundo.
Vejamos um exemplo de como fazer um exame de consciência diante da Palavra de Deus.
Tomemos como base o texto do Evangelho de (Lc 7,1-10), lembrando que a liturgia de cada dia é nosso maná cotidiano, preparado para cada um de nós pela Providência do Pai, portanto, o exame de consciência deve ser feito a cada dia, sem cobranças exageradas, diante da palavra da liturgia do dia.
Evangelho de (Lc 7,1-10): “Naquele tempo, quando acabou de falar ao povo que o escutava, Jesus entrou em Cafarnaum. Havia lá um oficial romano que tinha um empregado a quem estimava muito, e que estava doente, à beira da morte. O oficial ouviu falar de Jesus e enviou alguns anciãos dos judeus, para pedirem que Jesus viesse salvar seu empregado. Chegando onde Jesus estava, pediram-lhe com insistência: “O oficial merece que lhe faças este favor, porque ele estima o nosso povo. Ele até nos construiu uma sinagoga”. Então Jesus pôs-se a caminho com eles. Porém, quando já estava perto da casa, o oficial mandou alguns amigos dizerem a Jesus: “Senhor, não te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa. Nem mesmo me achei digno de ir pessoalmente a teu encontro. Mas ordena com a tua palavra, e o meu empregado ficará curado. Eu também estou debaixo de autoridade, mas tenho soldados que obedecem às minhas ordens. Se ordeno a um: ‘Vai!’, ele vai; e a outro: ‘Vem!’, ele vem; e ao meu empregado ‘Faze isto!’, e ele o faz”. Ouvindo isso, Jesus ficou admirado. Virou-se para a multidão que o seguia, e disse: “Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”. Os mensageiros voltaram para a casa do oficial e encontraram o empregado em perfeita saúde.”
Se você costuma fazer diariamente a Lectio Divina, certamente já lê os textos da Liturgia do dia; para fazer o exame de consciência diante da Palavra, basta então, uma disposição a mais. É simples, basta apenas perguntar-se: em quais aspectos não tenho as mesmas atitudes de Jesus? E, por outro lado, em quais aspectos eu mantenho a postura dos doutores da lei, dos fariseus e dos outros personagens do texto?
Experiência de exame de consciência diante da Palavra, ‘escuta Israel’  o texto de hoje. Vamos tomar apenas dois versículos:
1. “Então Jesus pôs-se a caminho com eles.” (v. 6) O orante deve questionar-se: Será que estou sempre disposto a por-me a caminho quando alguém me pede algo que está ao meu alcance? Neste dia, em que situações vivi esse texto? Agi como Jesus? Fiz o contrário? Além do questionamento, devemos pedir a Jesus a graça da mudança de atitude, se podemos voltar atrás, façamos. Caso contrário, façamos o propósito de agir diferente na próxima oportunidade.
2.  “Senhor, não te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa.“ (v.7). O centurião não se achou digno de que Jesus entrasse em sua casa porque era pagão. Questione-se: Sou digno da visita de Jesus? Sou digno que Jesus entre em minha casa? Meu corpo é casto? Minha mente é casta? Meu coração é casto?
Estes questionamento de nada adiantarão quando apenas nos acusarmos e não pedirmos ao Senhor a graça da conversão. Ao dar-se conta das fraquezas devemos sempre pedir a salvação do Senhor que acontece através do arrependimento e da confissão sacramental do pecado. No confronto com a Palavra de Deus, sempre terei uma nova luz, que sacode minha inércia e me faz descobrir o mal que há em mim. Faça todos os dias esta experiência.
Texto base: CENCINI Amedeu, Viver Reconciliados. São Paulo, SP: Editora Paulinas, 1988 – CAPÍTULO 4.