Um historiador grego conta que o rei Dâmocles certo dia quis fazer um súdito que invejava sua condição experimentar como vive um rei. Convidou-o à sua mesa e serviu a ele um farto almoço. A vida na corte parecia ao homem sempre mais invejável. Mas, a certo ponto, o rei convidou-o a olhar para cima. Que viu o servo? Uma espada pendia sobre sua cabeça, com a ponta para baixo, presa a um fio de crina de cavalo! De repente, ele empalideceu, o alimento ficou preso em sua garganta e começou a tremer. Dâmocles queria dizer que assim vivem os reis: com uma espada, noite e dia, pendendo sobre suas cabeças.

Mas não apenas os reis, acrescentamos. Uma espada de Dâmocles pende sobre a cabeça de todos os homens, ninguém está isento disso. Só que não prestamos atenção, empenhados como estamos em ocupações e distrações. Essa espada é a morte. É por amor aos homens, não por ódio, que a Igreja deve assumir o ingrato dever de convidar a elevar o olhar para vermos a espada que pende sobre nossas cabeças, para que ela não nos sobrevenha encontrando-nos despreparados.

Despendemos parte notável de nossas energias para fugir do pensamento da morte. O tempo da quaresma é um convite para que nos mantenhamos sempre de “malas prontas” para esta viagem, porque não sabemos nem o dia nem a hora em que teremos que partir para a eternidade.

O jejum, a esmola e a oração nos são propostos neste tempo com mais insistência, não porém como um fim em si mesmos, mas uma avaliação e uma conscientização do domínio e governo que temos sobre nós mesmos, sobre o desapego dos bens e a nossa intimidade, obediência e adoração a Deus.

Fonte: Frei Raniero Cantalamessa.