Vocação é o chamado pessoal, particular, único e irrepetível, vindo de Deus para o homem. Deus chama o homem para junto de seu convívio simplesmente porque quer. São cinco as etapas típicas da vocação: o chamado de Deus, a resposta do homem, a missão que Deus confia ao que foi chamado, a perplexidade do chamado, a confirmação tranquilizadora.

  1. O chamado de Deus:

Hoje o que bloqueia o jovem, a ponto de não sentir com clareza este chamado, é um clima cultural muito nivelado nas exigências materiais e pouco aberto ao diálogo com o Espírito Santo. O vocacionado sente-se frágil em relação a sua escolha e incapaz de tomar decisões definitivas. O modelo de Cristo crucificado está em contraste com a cultura do mundo ao seu redor.

  1. A resposta do homem:

Para corresponder ao chamado de Deus é preciso escutar, acolher, questionar e, finalmente, dar o passo. A solidão, não de vazio existencial, constitui um lugar privilegiado e íntimo para este encontro com a pessoa de Jesus.

A solidão como vazio existencial ocorre naquele que perdeu a dimensão contemplativa da vida. Consequentemente, a busca pelo dinheiro, poder, posse, afetos, prazeres e apegos – contrários ao estado de vida – aumentam e, por fim, entra em cena o ativismo, o fazer por fazer e a busca de louvor e honras humanas.

  1. A missão que Deus confia para aquele que foi chamado:

O caminho da vida, sobretudo nesta cultura em que vivemos, pode levar muitas vezes ao esquecer-se das motivações profundas de uma escolha de fé e de vocação. Quando descobrimos e vivemos o nosso chamado (vocação), somos extraordinariamente favorecidos pela graça de estado – é, por exemplo, o caso do Papa, dos fundadores, etc. Deus nos apoia fortemente e os maiores desafios se tornam leves.

  1. As perplexidades do chamado:

As dúvidas, tentações e resistências fazem parte da vida humana. O que sobrecarrega a vocação são os acréscimos colocados como lentes de aumento falsas sobre o que é real. Quando tudo se torna muito grave, o menor erro, engano ou até fraqueza causa grande frustração e depressão. A ideia perfeccionista do ser consagrado é um peso silencioso que dispensa grande força vital. A graça se apoia, sob o ponto de vista emotivo, em estar no lugar certo, ou seja, onde fomos chamados, sem pretensões e sem exigências exageradas.

  1. Confirmação tranqüilizadora:

Todo homem busca repouso, tem necessidade de ser confirmado e nutre a ilusão de ser justo, de estar pronto. Infelizmente, esta não é a realidade. O homem é um ser inacabado; ainda mais um homem chamado por Deus haverá de enfrentar o constante processo de construção do eu real. Paulo dizia: “… castigo meu corpo e o mantenho em servidão, de medo de vir eu mesmo a ser excluído depois de eu ter pregado aos outros.”(I Cor 9,27).

Num caminho, as pedras miliárias (marcas de milhas nas estradas) indicam e apontam o caminho, mas permanecem inertes e imóveis. O que acontece com o consagrado que vive como a estas pedras miliárias: está à beira do caminho, indicando o caminho certo aos outros, mas, pessoalmente, com demasiada segurança em si mesmo. Por estar há muito tempo indicando, apontando, animando, nutre a pretensão de conhecer perfeitamente as realidades. Por saber onde acabará este caminho, mantém a presunção de já ter formulado um juízo definitivo sobre as coisas. Estes itens formam os corações fechados e insensíveis à novidade de Deus. O que falta é a humildade autêntica e a coragem de crer naquilo que é verdadeiramente grande.

Conclui-se que a confirmação tranqüilizadora vinda da parte de Deus é o seu socorro. A cada dia Ele mesmo desafia e prova os seus para que perseverem corajosamente até o fim. Diziam os padres do deserto: o homem que não é provado não se salva, da mesma forma, o consagrado que não passa pelo ‘cadinho da humilhação’ (Ecle 2,1-6) se torna medíocre, tranqüilo e morno em seu chamado.