Havia um tempo que uma idosa de nossa família, insistia em pedir para que quando ela morresse gostaria que fosse cremada. Conversamos muito com ela sobre esse assunto, até que ela se convenceu que o melhor é ter uma sepultura, e ser enterrada de modo natural como foram seus familiares ancestrais.
Para nós católicos o corpo é profético, pois Deus se revela através dele desde o instante que somos batizados. O corpo é presente dado a nós por Deus. Como tal, devemos cuidar dele durante a vida e ter o cuidado cristão após a morte.
Jesus desde o primeiro momento de sua Encarnação no ventre de Nossa Senhora, Ele santificou todas as etapas da vida humana, da concepção até a morte natural; e ainda mais, pós morte natural.
A trajetória que Jesus fez é a trajetória que somos chamados a seguir. Jesus quando morreu Ele foi sepultado. O corpo Dele foi entregue a sepultura de modo natural, não houve nenhuma intervenção humana, alterando o corpo Dele, através da incineração, antes de ser colocado na sepultura.
“Quando morrer não quero ser cremado”, esse foi o título escolhido pelo Pe Paulo Ricardo ao falar sobre a cremação, com base em um ensinamento do escritor católico Scott Hahn, que é o mesmo autor da obra: “Todos Caminhos Levam a Roma”.
Scott Hahn fez um levantamento histórico de como se deu o inicio da prática da cremação. Esta prática era comum entre os pagãos; no século XIX diversos grupos — “radicais franceses, maçons italianos, socialistas alemães, médicos ingleses e engenheiros civis americanos” — começaram a resgatar o interesse pela cremação. Muitos de seus defensores eram ateus e anticristãos declarados. Segundo o historiador Thomas Laqueur, “a ideia era que a cremação pusesse abaixo aquela comunidade milenar que enterrava seus mortos em solo sagrado” .
O novo Código de Direito Canônico, de 1983, explica que “a Igreja recomenda sinceramente a preservação do piedoso costume do sepultamento, embora “não proíba a cremação”. Scott Hahn cita a escritora católica Patrícia Snow, que afirma que a Igreja “encoraja, prefere veementemente e recomenda com sinceridade que os católicos continuem a piedosa e constante (piam et constantem) prática do sepultamento dos corpos dos fiéis defuntos”. Na verdade, depois que Patrícia Snow escreveu isso, o Vaticano publicou em 2016 outro documento no qual recomendava “insistentemente” que o sepultamento era “acima de tudo a forma mais adequada de manifestar a fé e a esperança na ressurreição do corpo” .
A Igreja não aprova a cremação; ela a permite. O sepultamento cristão prega a ressurreição, a transformação e a glorificação do corpo humano.
Como disse o Pe Paulo Ricardo: “Estou com Scott Hahn; quando eu morrer, quero que meu corpo seja uma mensagem flagrante de afirmação da vida eterna corpórea que Cristo conquistou para todos nós”.
“Glorificamos Cristo com os nossos corpos” (I Cor 6, 19) , seja na vida seja na morte, pois nós católicos somos a única religião do mundo que glorifica Cristo, através da veneração de relíquias, que são partes do corpo dos santos que já não estão neste mundo.
Cleonice Macedo Kamer
1 https://padrepauloricardo.org/blog/nao-me-deixem-ser-cremado
2 CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ – https://cdn.dj.org.br/wpcontent/uploads/2020/10/Instrucao-sobre-a-sepultura-e-cremacao.pdf