A adolescência é a etapa talvez mais difícil e extraordinária, pois estes pré-adolescentes que se faziam adorar pelos seus educadores e pais, quase sem se esperar, entram em crise, uma crise providencial, mas difícil de enfrentar. Quantos educadores desanimam, depois de terem obtido grandes resultados na etapa precedente. A sensação é de que todo o trabalho foi perdido. Os adolescentes começam a contestar tudo, não querem mais empenhar-se seriamente, acham tudo ridículo, não querem cumprir suas funções, e os pais, sobretudo, desesperam-se. No entanto, é preciso alegrar-se, porque isso quer dizer que seus filhos são normais.
Adolescência pode ser comparada a uma plantinha bonita que com a chegada do inverno parece morrer, porém, pelo contrário, é o momento em que a plantinha aprofunda suas raízes para dar bons frutos. A adolescência é um período de crescimento misterioso, que acontece no interno da pessoa sem que ninguém se dê conta. Acontece também um distanciamento momentâneo da fé e isso também é providencial, pois é o momento em que a fé deve passar da fé dos pais, do ambiente, da comunidade, ou seja, de uma fé externa para uma fé personalizada. É como percorrer um túnel em curva, onde tudo é escuro e parece não ter fim.
Qual deve ser, então, o comportamento do acompanhador ou pais na adolescência? Antes de tudo, deve se ter consciência que é assim mesmo. É preciso muita paciência, pois os nossos adolescentes são provocadores, querem ver se nós os queremos bem e nos desafiam na paciência. Além disso, faz-se imprescindível o diálogo e a escuta mesmo que o adolescente fale apenas com monossílabos e sinta-se incapaz de se comunicar com a própria família e com os educadores. Entretanto, em seu grupinho de amigos , existe uma enorme empatia e comunicação. Faz-se importante a presença de um adulto significativo – o pai, o sacerdote, o acompanhador – alguém que seja realmente amigo.
O adolescente tem muito medo de si mesmo, porque se depara com o desejo de dar certo na vida e uma imensa quantidade de forças interiores agressivas e afetivas. Estas forças interiores não estão ordenadas e o adolescente não sabe como organizá-las, então, necessita do apoio de maneira positiva, sem cobranças, para colocar cada coisa em seu devido lugar.
Esta é uma etapa onde os rapazes e as moças deveriam descobrir o sacramento da reconciliação como ‘a força contínua de Deus’; Aquele que o encoraja e impulsiona para além das dificuldades e fraquezas a encontrar um caminho justo, o caminho vocacional pessoal.
Não devemos nos admirar que a atenção mais intensa do adolescente nesta etapa seja seus grupos e amigos. O ideal seria que os pais e os educadores pudessem eles mesmos acompanhar este adolescente para que fizesse parte de um bom grupo; o problema não são os amigos em si, mas que tipo de grupo de amigos.
O maior valor que deve amadurecer nesta fase é a consciência de que a vida é uma responsabilidade única. Enquanto na pré-adolescência é “fantasia e sonho e tudo bem”, na adolescência é exatamente o contrário, e se um adolescente amadurece neste ponto já alcançou quase tudo.
Nos dias de hoje, muitas pessoas que saltaram esta fase se tornaram adultos, fizeram uma escolha de vida – seja no sacerdócio, vida religiosa ou matrimônio – mas ainda não compreenderam que a vida é uma responsabilidade. Assim, sentem-se incapazes de perseverar e lidar com a responsabilidade no próprio estado de vida e na escolha já decidida até o fim.
O acompanhamento nesta etapa é muito importante. Ainda que sem frutos imediatos, não devemos desanimar, pois tudo que fazemos com verdadeiro amor, cedo ou tarde dará frutos. Os resultados normalmente aparecerão na juventude e na vida adulta.