Na nossa vida já não podemos fazer o que nós queremos, nem pensar o que queremos, já não podemos ver o que queremos, porque a nossa vida já não nos pertence mais. Muitos perguntam sobre essa realidade de Nova Fundação, se a nossa consagração é válida: será que a vida do leigo consagrado, também o matrimônio, o casal consagrado, é real? Quando nós temos dúvidas de quem nós somos abrimo-nos a escolher outras coisas, ou pelo menos, nós diminuímos o passo.
Somos uma consagração de vida, nós somos chamados de Novas Fundações, através de um Carisma fundacional e nada disso é uma fantasia ou um projeto humano. Muitas vezes, nos questionamentos sobre quem somos, há dúvidas diabólicas, por isso, em vez de realizarmos aquilo que devemos fazer, nos retraímos, esperamos, não confiamos, abandonamos porque queremos ainda fazer a nossa ideia, o nosso projeto do nosso jeito, achando que uma Nova Fundação, uma consagração de vida ainda é uma vida leiga, uma vida cristã, não no sentido de ser menor, mas dentro da vida cristã há uma liberdade de ir e vir: eu posso escolher o que eu quero fazer, a espiritualidade que eu quero participar, escolher os amigos que eu devo ter. Aí existe uma amplitude maior, uma decisão regrada por um discernimento pessoal.
O consagrado está submetido a uma missão que Deus dá, que Deus infunde sobre a pessoa. Não é apenas para viver com um aglomerado de pessoas cristãs em busca de uma perfeição pessoal. Em uma dimensão mais profunda, é uma participação através do meu testemunho da Igreja-Mistério, que reflete o próprio modo de viver de Cristo. Precisamos ter a consciência de que somos todos instrumentos dos quais Deus quis se utilizar em favor do “outro”. Por isso, Ele nos faz Comunidade, como um lírio que sustenta os demais, na medida em que também somos sustentados por todos os outros lírios. Sozinhos não conseguiríamos nos sustentar. Como diz Santa Madre Teresa de Calcutá, “somos todos seus humildes instrumentos. Eu posso fazer aquilo que tu não podes. Tu podes fazer aquilo que eu não posso. Juntos, podemos fazer algo de belo para Deus”. Aqui, Deus vai além e concede a graça de participar de algo novo, uma novidade na qual tanto aquele que é homem, mulher, solteiro, casado, sacerdote pode participar. Deus chama a sua Igreja em todos os aspectos, em todos os estados de vida para retomar ainda mais o seu projeto original. O nosso objetivo de consagração de vida é retornar ao princípio do que Deus fez e viver para Ele, não sozinho, mas em comunidade, como irmãos, sob a inspiração de uma pessoa que é o fundador. Isso já não acontece na vida cristã, porque aí não se está sob a ordem de uma pessoa, mas sobre a ordem dos mandamentos, dos sacramentos, da Palavra e do Autêntico Magistério da Igreja.
Na consagração de vida trazemos tudo isso e com tudo isso experimentamos ser um dom de Deus, uma forma de viver de Jesus, submisso a uma ordem, uma inspiração do alto que não é humana, mas que é divina. É Deus quem inspira nas almas o desejo de abraçar um estado sublime como a consagração de vida. “Não fostes vós que me escolhestes, senão eu que vos escolhi”. (João 15,16)