No instante da concepção Deus criou a alma de forma única e eterna, deixando nela um espaço, uma espécie de ‘oco’ que possui tamanhos diversos. Este ‘espaço oco’ é a tenda do Senhor armada no ser profundo de cada homem. “Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito Santo habita em vós?” (I Cor 3, 16).
Quando este ‘oco interior’ é pequeno poderá ser facilmente preenchido através de exercícios espirituais e devoções, ou até mesmo pelos acontecimentos cotidianos da vida, tais como: família, trabalho, estudo, entretenimentos, etc., porém, quando este espaço é grande, enorme, imenso, nada preenche este vazio, então o homem sem Deus, se lança nas buscas extremadas do ativismo, dos prazeres mundanos, dos bens materiais, do domínio do conhecimento ou ainda pior nas espiritualidades pagãs, mas o vazio aumentará sempre mais, pois a alma só poderá aquietar-se no encontro com Deus, seu Criador.
Um exemplo incontestável desta verdade é Santo Agostinho que fez a experiência de em tudo buscar preencher seu ‘oco-doloroso’ e só Nele encontrar a verdade e o amor. Ele dizia: “Tarde Te amei, oh Beleza tão antiga e tão nova… Eu era inquieto, alguém que buscava a felicidade, buscava algo que não achava… Mas Tu Te compadeceste de mim e tudo mudou porque Tu me deixaste conhecer-Te. Entrei no meu íntimo sob Tua Guia e o consegui porque Tu Te fizeste meu auxílio….Tu estavas dentro de mim e eu fora…”
O ‘oco’ interior é por excelência a morada de Jesus, ali, Jesus espera a alma e a completará através de sua incomparável presença, de sua consolação insondável, da meditação da Palavra de Deus e da contemplação dos mistérios divinos.
O ‘oco da solidão’ define também a intensidade da entrega vocacional do homem, quanto maior o oco, mais o homem sentirá o desejo de estar ali, a sós com o divino, descobrindo seus tesouros de sabedoria e de graça.
A solidão pode ser percebida desde a tenra idade, e torna a alma ainda mais sensível e exigente de atenção e afeto humano. Quando a solidão, o espaço, o ‘oco’ da alma não é preenchido com a presença divina este vai gerar o chamado: vazio existencial; vazio existencial é diferente de solidão, a solidão quando cheia da luz de Deus é solo fértil e fonte de verdadeira felicidade e extraordinária fertilidade espiritual, já o vazio existencial é fonte de ativismo, de desequilíbrio interior, de perda de identidade e do sentido da vida.
É a solidão que provoca a busca, porém quando esta busca pender para os lugares e coisas mundanas, sem o conhecimento de Cristo, a alma adaptando-se ao mundo ou nas experiências exotéricas, pagãs ou diabólicas, desenvolverá progressivamente e muitas vezes, de forma imperceptível um desequilíbrio generalizado da identidade humana, distanciando-se da própria verdade de si como criatura e como filho e filha de Deus, em outras palavras diabolizando-se.
Existe um único caminho para sair do vazio existencial que é preenchê-lo com a presença de Deus; o Deus que no espaço oco da alma de Santa Ângela de Foligno lhe confidenciou: “Não foi para brincar que te amei” . O Senhor nos chama: “Vem e segue-me” (Mt 19, 21), como Mãe e Mestra nesta viagem nos deu Sua Igreja, “A Igreja do Deus vivo, coluna e sustentáculo da verdade.” (I Tm 3,14), para que através dos tesouros da Palavra, do Magistério, da Tradição e da Sã Doutrina, o homem possa ter um verdadeiro encontro com o Deus Vivo. Ele nos deixou também seu testemunho: “Dou a minha vida pelas minhas ovelhas” (Jo 10,15), diz o profeta Isaías: “tão desfigurado estava que havia perdido a aparência humana…. em verdade ele tomou sobre si nossas dores….” (Is 52,14 – 53, 4), é Jesus e somente a Pessoa de Jesus que pode restaurar a destruição provocada pelo pecado na alma humana. Ele deixou-se desfigurar para que o homem possa recuperar a semelhança com Deus.