Foi o amor divino que levou a segunda Pessoa da Santíssima Trindade – o Verbo, o Filho de Deus Pai – a assumir a nossa carne, isto é, a nossa condição humana, à exceção do pecado. E o Verbo, a Palavra de Deus, é a Palavra da qual procede o Amor. O Amor revela-se-nos através da Encarnação até ao sacrifício supremo da Cruz. “Nisto manifestou-se o amor de Deus por nós: Deus enviou seu Filho Único ao mundo para que vivamos por Ele”

A Palavra de Deus é “Lâmpada para meus passos e luz no meu caminho” (Sl 119 [118],105). Ela dá ao mundo e às coisas sua verdadeira dimensão, equilibrando a miopia com a qual o pecado turva a realidade. A Palavra de Deus “Penetra até dividir alma e espírito, articulações e medulas. Julga os pensamentos e as intenções do coração” (Hb 4,12). Por isso, quem conhece e medita a Bíblia, mesmo que só tenha com uma modesta preparação acadêmica, tem a sabedoria que outros talvez não encontrem em seus estudos. “Eu vim a este mundo para um julgamento, a fim de que os que não veem vejam, e os que veem se tornem cegos” (Jo 9, 39).

Os acontecimentos narrados na Bíblia têm, a partir da fé, um sentido que transcende a categoria dos simples fatos históricos: através das ações e vicissitudes do Povo de Deus, trata-se sobretudo do que o Senhor age no povo e pelo povo; nossa Mãe o expressa com nitidez: “o Poderoso fez para mim coisas grandiosas. O seu nome é Santo” (Lc 1, 49). Também os acontecimentos da história do mundo, e da nossa história pessoal, encontram luz na Escritura: “Não há criatura que possa ocultar-se diante dela. Tudo está nu e descoberto aos olhos daquele a quem devemos prestar contas” (Hb 4,13). A Palavra de Deus envolve e ilumina nossa vida.

Na Sagrada Escritura cada texto tem sua unidade no Verbo de Deus. “Com efeito, por muito diferentes que sejam os livros que a compõem, a Escritura é una, em razão da unidade do desígnio de Deus, de que Jesus Cristo é o centro e o coração, aberto desde a sua Páscoa” (Dei Verbum). Por isso, se lê o Novo Testamento à luz do Antigo, e este tendo a Cristo como chave de interpretação, segundo a famosa fórmula de Santo Agostinho: o Novo está escondido no Antigo, e o Antigo se manifesta no Novo. São Tomás de Aquino escreve que o coração de Jesus “estava fechado antes da Paixão, porque a Escritura estava cheia de obscuridades. Mas a Escritura ficou aberta depois da Paixão e assim, aqueles que desde então a consideram com inteligência, discernem o modo como as profecias devem ser interpretadas”. Por isso, quando o Ressuscitado aparece aos discípulos, São Lucas escreve que “ele abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras” (Lc 24, 45). Assim faz Jesus também conosco, quando deixamos que nos acompanhe no caminho de nossa vida, por nossa escuta atenta, por nossa busca sincera. Conduzidos pelos santos, e por tantos irmãos na fé, encontramos na Escritura “a voz, os gestos e a figura amabilíssima do nosso Jesus”.

Fonte: Parte do texto em: https://opusdei.org/pt-br/article/entendes-o-que-les-respirar-com-a-sagrada-escritur/