Não entramos na vida comunitária prontos para dar a vida.
“Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-la-á.” (Mt 16,24-25)
As justas exigências
Uma comunidade recém fundada ou já aprovada pela Igreja, precisa de regras mínimas que devem ser cumpridas por todos. Quando um vocacionado entra, em sua fase romântica com o carisma, ele pensa estar disposto a deixar tudo e morrer por Deus e pelos irmãos, mas com o passar dos dias, naturalmente, esta ‘fortaleza inicial’ vai enfraquecendo. Aquelas exigências que inicialmente era tão ‘doces’ começam a se tornar pesadas, difíceis, árduas…
Quebrar a identificação com o corpo
A formação pessoal entra então em ação para ajudar o vocacionado a quebrar suas dependências afetivas com o próprio corpo, é claro que o ‘estar bem’, é bastante importante, mas para que cada um chegue livremente a este estado não é a comunidade que precisa ‘aliviar’ suas regras, mas sim, cada vocacionado é que precisa criar uma resistência, uma fortaleza, uma resiliência capaz de levá-lo a autenticamente dar a vida.
Um verdadeiro consagrado reza com dor e sem dor, com sono e sem sono, com cansaço e sem cansaço, pois quem determina seu bem e mau estar não é a sensação física mas o ‘fogo interior’, o mesmo fogo que impeliu Cristo até o alto da Cruz no Calvário.
A intervenção da formação pessoal
É na formação pessoal o lugar legal para trabalhar o corpo ferido, cansado, sonolento, atribulado, que grita por silêncio, que quer fugir, que quer chamar a atenção, que sofre queda de imunidade, de fôlego, que ganha ou perde peso, que chora sem saber o por quê.
O vocacionado tem a sensação de uma morte iminente, de uma depressão certa, de haver perdido até mesmo a vocação. As íntimas e muitas vezes inconscientes queixas giram em torno de: ‘não tenho tempo nem pro meu banho, estou cansado, com muito sono, estou me sentindo mau…’, ou seja, sensações infantis, crises de rebeldias de adolescência, que vem à tona sem poderem ser controladas, pois é grande, é grave, o vocacionado diz: ‘olhem para mim, estou sofrendo…’.
No olhar do formador, porém, a experiência diz que tudo está bem, que estas tribulações mais ou menos intensas fazem parte do caminho, não é tão grande assim, basta partilhar, se abrir, relatar as sensações e os aparentes ou reais sofrimentos, receber uma oração, um acolhimento compreensivo e tudo alivia, mas não pára, tudo faz parte do lento e doloroso processo de cura.
Existem aquelas situações em que a tentação do medo paralisa, o medo de enfrentar as situações novas da missão, do apostolado, a sensação de incapacidade, o medo de não corresponder, o medo de ficar doente, etc. que leva a pessoa a pensar que escolheu a vocação errada. Mais uma vez estes desequilíbrios devem ser tratados na formação pessoal.