A entrega generosa de Cristo defronta-se com o pecado, essa realidade dura de aceitar, mas inegável: o mistério da iniquidade, a inexplicável maldade da criatura que se levanta, por soberba, contra Deus. A história é tão antiga como a humanidade. Recordemos a queda dos nossos primeiros pais; depois, toda essa cadeia de depravações da humanidade, e, finalmente, as nossas rebeldias pessoais. Não é fácil considerar a perversão que o pecado implica e compreender tudo o que a fé nos diz. Devemos tomar consciência de que, mesmo no plano humano, a magnitude da ofensa se mede pela condição do ofendido, pelo seu valor pessoal, pela sua dignidade social, pelas suas qualidades. E o homem ofende a Deus: a criatura renega o seu Criador.

Mas Deus é Amor. O abismo de malícia que o pecado encerra foi transposto por uma Caridade infinita. Deus não abandona os homens. Os desígnios divinos previram que, para reparar as nossas faltas, para restabelecer a unidade perdida, não eram suficientes os sacrifícios da Antiga Lei, fazia-se necessária a entrega de um Homem que fosse Deus.

Jesus morreu pelos nossos pecados. E, o que é mais profundo, morreu por nós, morreu porque Deus nos ama; e nos ama a ponto de dar o seu Filho unigênito, a fim de que tenhamos a vida por meio Dele (Jo 3,16-17).

Portanto, é para nós mesmos que devemos olhar: para o mal e o pecado que vivem dentro de nós e que demasiadas vezes fingimos de ignorar. Mas, ainda mais, devemos volver o nosso olhar para Deus, rico de misericórdia, que nos chamou amigos (Jo 15,15) para examinarmos os nossos desejos de vida cristã, de santidade; para reagirmos com um ato de fé perante as nossas fraquezas e, confiantes no poder de Deus. A experiência do pecado tem que nos conduzir à dor, a uma decisão mais amadurecida e mais profunda de ser fiéis, de nos configurarmos com Cristo, de perseverar custe o que custar nessa missão que Ele confiou que nos impele a ser sal e luz do mundo.

Fonte: Homilia de São Josemaria Escrivá, 1960