Hoje vamos conhecer a sexta situação de ‘crise’ que pode acontecer com a pessoa que se propõe a uma consagração de vida a Deus. Trata-se de uma ‘crise’, que certamente é providencial para que cada personagem da família e da comunidade assuma seu lugar.
VI – A chegada dos filhos
Alguém dizia: o casamento é como a união de um japonês com um espanhol e que geram um paquistanês, nenhum conhece bem a linguagem profunda do outro…Esta é a melhor tradução que já ouvi sobre o desafio da vida em família, Deus une pessoas diferentes para viver uma experiência semelhante a Dele, a experiência de união, comunhão e missão como ícone da Trindade no mundo.
A chegada dos filhos é um momento importante para o casal, não é diferente para o casal com uma consagração de vida, porém, este feliz acontecimento gera muitas transformações que podem gerar uma crise. Um bebê exige toda a atenção, especialmente de sua mãe, esta mãe não é apenas uma mãe, é uma consagrada, é uma filha de Deus, necessitada, em constantes mutações interiores e certamente o Senhor usará destes momentos para tirar delas o melhor dos sabores. Lembremos Agar, a escrava que ao perceber que tinha concebido começou a se sentir poderosa, dona de si, capaz de reivindicar seus direitos e ousou desprezar sua senhora (Gn 16, 4 ss), e o próprio Abraão que foi chamado por Deus para sacrificar seu filho Isaac (Gn22). Quantos consagrados são chamados a sacrificar seu Isaac, ou seja, diante de novos desafios reafirmar a escolha: Deus em primeiro lugar.
O encantamento:
Algumas consagradas depois de gerar filhos permanecem encantadas com seus bebês e perdem o gosto pela vocação, pela oração, pela missão, pela vida comunitária e começam a dar preferência somente para a vida familiar, aos cuidados com os filhos, com a casa, com o esposo, o que seria bom e lícito, quando vivido de forma equilibrada, sem esquecer do chamado de Deus a um carisma;
O ativismo:
É certo que, também a mulher consagrada, ao tornar-se mãe, precisa compreender que se trata de uma missão, um chamado de Deus para gerar, cuidar e educar os filhos juntamente com seu esposo, para isso, se faz necessário certo afastamento, especialmente da mãe, das atividades missionárias para dedicar mais tempo ao ninho e assim torná-lo fecundo. A docilidade é elemento essencial na vocação, pois, chegará também a hora de retomar, de voltar, de deixar o filho aos cuidados do esposo, dos irmãos, dos pais, para retornar as atividades, é outro desafio a ser superado.
Para o homem que se torna pai, o desafio não é menos exigente, é preciso aprender a ser pai, a dividir as atenções da esposa com os filhos, a compartilhar das exigências com o cuidado das crianças, a renunciar de muitos momentos comunitários, ficando com os filhos para que a esposa participe, tudo isso sem esquecer que um pai não se poupa, precisa trabalhar para sustentar sua família, para garantir sua segurança e educação.
O extremismo:
Alguns pais e mães sofrem a tentação do extremismo, ou seja, meus filhos precisam de atenção, cuidados, proteção de todos os lados, o que é verdade, porém com equilíbrio. Com a desculpa fantasiosa de dar mais atenção à família muitos acabam se afastando dos pilares essenciais da vida comunitária que são: a oração, a vida fraterna e o apostolado. Quando a atenção, o pensamento e o desejo saem do centro que é Cristo, do ideal da vocação, da fidelidade do carisma, seja pelo motivo que for, logo todo o corpo também é arrastado, haverá o esfriamento da vocação e o inevitável afastamento do chamado.
As invasões:
A chegada de um novo membro na família chama a atenção de todos: dos amigos, avós, tios, padrinhos, etc…todos querem ajudar, apoiar, cuidar, enfim, realmente a ajuda é bem vinda e necessária, mas, cuidado com as invasões, o casal com uma consagração de vida precisa dar atenção redobrada às regras do carisma, que são facilmente esquecidas em vista de aparentes necessidades, muitas vezes irreais que acabarão afastando a família da missão e do ideal para o qual foi chamada. A conseqüência desta falta de cuidado é que inoportunamente nasce através daquela família, dentro da própria Comunidade de Vida, uma outra comunidade, a chamada comunidade autônoma, que cria suas próprias regras, cuida de sua própria providência, a providência será agora suprida pelos parentes e amigos, não mais pela graça do carisma, a comunidade autônoma tem a tendência a tornar-se sempre mais distante da fraternidade comunitária, exigente de concessões e privilégios, tudo isso, é claro quase que inconscientemente.
Este estado, se não sofrer interferência rápida e direta das autoridades pode ser danoso para toda a comunidade, para as demais famílias consagradas, e a perda do sentido da vocação, e finalmente é claro o abandono do chamado.
Como acabamos de considerar, são diversas circunstâncias novas que precisam ser trabalhadas, vividas e partilhadas com verdade e transparência. É preciso contar com a graça, acolher as mediações humanas, abrir-se para o diálogo, a fim de decodificar a vontade de Deus para a família consagrada hoje.
Conclusão:
As chamadas crises vocacionais são momentos importantíssimos e propícios para extraordinários passos de maturidade quando encontram corações dóceis ao acolhimento da direção formativa, ou seja, a palavra de sabedoria e discernimento vindo do carisma através da formação pessoal. Deus se usa da intervenção dos fundadores e formadores para forjar em nós o coração do Filho. A justa medida do discernimento, da oração e do acolhimento das novas exigências de Deus em relação a vocação de cada um provoca grandes saltos de crescimento e conversão.
“A esperança não engana…” (Rm 5,4b), que as dificuldades da consagração de vida não arrefeça nossa esperança, não esqueçamos que vivemos em luta espiritual, (1 Pd 5, 8),  por isso facilmente caímos nas armadilhas de nossas fraquezas e das forças do mal, façamos todo o esforço para atender aos apelos de Deus, a beleza do Seu chamado e para as maravilhas que Ele pode operar no mundo através de seus consagrados. Toda a consagração de vida deve estar arraigada na Palavra de Deus, na escuta, em uma vida orante, mais para as coisas do alto do que para as funções da vida humana. Está escrito: “Concentra teu pensamento nos preceitos de Deus, sê assídua à meditação de seus mandamentos. Ele próprio te dará um coração, e ser-te-á concedida a sabedoria que desejas” (Eclo 6,37).
Acesse o 5º dia no link: http://comunidadeoasis.org.br/crise-vocacional-ou-momento-providencial/
Ou confira os demais tipos de ‘crises’, nas postagens anteriores.