Hoje vamos conhecer a quarta situação de ‘crise’ que pode acontecer com a pessoa que se propõe a uma consagração de vida a Deus. Trata-se de um desânimo profundo pelo qual muitos consagrados podem passar.
IV- A proximidade da aposentadoria, da morte, ou ainda, incapacidade física.
Sabemos que em algumas civilizações que valorizam as atividades intelectuais, ser idoso é sinônimo de sabedoria e experiência, e, por isso, os indivíduos, ao chegarem nessa etapa da vida, não perdem o seu papel ativo. Nas culturas orientais o idoso é visto com respeito e admiração, símbolo de experiência de vida, representante da prudência, do saber acumulado e da reflexão. Nas outras culturas, em contraposição, principalmente nas ocidentais, o idoso representa o velho, no sentido pejorativo, o idoso é ultrapassado e descartável; é evidente que os consagrados sofrem os “respingos” desta cultura.
Na cultura atual, infelizmente, somente tem valor quem produz. Se a pessoa dá lucro, constrói, realiza, trabalha, tem valor para o mercado, caso contrário é material de descarte.
De forma geral, quando se aproxima o tempo da aposentadoria, ou simplesmente uma diminuição do ritmo de vida, a pessoa é invadida por medos, preconceitos, e uma sensação de que a vida, a missão, a consagração não valeram a pena. Realmente é tempo de crise, não propriamente vocacional, pois dificilmente a estas alturas alguém pensa em voltar atrás, mas é crise existencial. Para quem fez uma consagração de vida, a vocação necessita de um novo sentido para continuar e não cair no abismo dos escrúpulos, da frustração e da depressão.
O documento ‘Vida Fraterna em Comunidade’ diz no número 63, ao comentar sobre as comunidades com muitos religiosos idosos:
“Sua fecundidade, embora invisível, não é inferior a das comunidades mais ativas. Antes, estas ganham força e fecundidade da oração, do sofrimento e da aparente inutilidade dessas pessoas. A missão tem necessidade de ambas: os frutos serão manifestados quando vier o Senhor da glória com seus anjos”.
Disse ainda o Papa Francisco: “É verdade que a sociedade tende a nos descartar, mas certamente não o Senhor. O Senhor não nos descarta nunca. Ele nos chama a segui-Lo em cada idade da vida e mesmo a velhice contém uma graça e uma missão, uma verdadeira vocação do Senhor. A velhice é uma vocação. Não é ainda o momento de ‘tirar os remos do barco… ‘”.
Se na sociedade capitalista ser idoso é sobreviver, no ambiente comunitário é preciso um olhar além. Se no capitalismo, o idoso é impedido de lembrar e ensinar, na comunidade ele tem seu espaço e reconhecimento, pois ele é a biblioteca mais acessível que existe.
Que aquele que, submetido às adversidades de um corpo que se desagrega, encontre cidadania junto aos jovens que chegam à comunidade no auge de seu vigor; que os jovens possam reconhecer no mais velho idoso, alguém que trouxe a chama do carisma acesa até o presente momento.
A velhice, a demência e os limites físicos sempre nos ensinam. A velhice não existe para si, mas somente para o outro e este outro no capitalismo é um opressor, em nossos ambientes comunitários este outro deve ter um rosto e um espaço diferentes.
Alguns consagrados chegam à velhice envoltos em grandes sofrimentos, uma experiência dolorosa certamente não vem do nada, no Livro do Eclesiástico está escrito: “como acharás na velhice aquilo que não tiveres na juventude”(Ecle 25,5). A vocação fervorosa, irrigada pela oração, pela fidelidade e perseverança encontrará uma velhice nas mesmas medidas. Quem cuidará dos consagrados quando ficarem velhos? O mesmo que cuidou deles em sua juventude, ou seja, o Senhor, providente e misericordioso.
Acesse o 3º dia no link: http://comunidadeoasis.org.br/crise-vocacional-ou-momento-providencial-4/
Confira na próxima postagem a sequência do título: Crise vocacional ou momento providencial: Mudança do estado de vida.