Convidamos hoje para conhecer a terceira situação de ‘crise’, que pode acontecer com a pessoa que se propõe a uma consagração de vida a Deus. Trata-se de uma ‘crise dos quarenta’, esta etapa fértil da vida, que, se bem absorvida promove um grande impulso para o consagrado.
III – A crise dos quarenta:
Para quem não consagrou sua vida a Deus, atingir a idade de quarenta anos de idade ou mais, mesmo estando vivendo certa estabilidade profissional e familiar, pode significar que está na hora de uma mudança radical. Esta é a mentalidade do século e infelizmente atinge também aos consagrados e gera crise vocacional.
A paisagem está mudando: os filhos crescidos, educados, formados, tomando rumo na vida, o cônjuge muitas vezes ‘não é fácil’, o trabalho já não tem o mesmo significado e entusiasmo, enfim, trata-se de um momento providencial em que surge a necessidade de novas motivações e de buscar um novo sentido para a vida. Muitos nesta hora são arrastados pelas correntezas do mundo moderno, iludidos, em busca de novas emoções, separam-se da família; sem dúvida encontrarão a nova emoção, da perda da dignidade e dos sofrimentos. Na consagração de vida esta realidade não é muito diferente, de repente o tempo está passando, as motivações, aspirações e sonhos do primeiro amor já não são os mesmos, é preciso buscar novas razões, porém, não fora, mas dentro de si.
Na sociedade atual existem muitas formas suspeitas para enfrentar esta fase, há os que fazem até 95 km de bicicleta no domingo, outros participam de corridas e maratonas, tudo em busca de algum desafio que faça com que a rotina se modifique, são os chamados “Tarzan de domingo”, ou seja, uma busca vazia que leva apenas a uma distensão muscular… Nos jantares, alguns comprazem-se em contar edificantes histórias, como a do amigo que mudou toda a vida para montar um restaurante, trabalha adoidado, mas está feliz, rejuvenesceu uns 15 anos! E os outros convivas aplaudem… Para as mulheres não é muito diferente, os cabelos começam a ficar grisalhos, há um aumento de peso ou  necessidade de usar óculos. Frequentemente, as mulheres começam a ter a sensação de serem “invisíveis”, as mulheres perdem de forma particular a sua autoestima, na vocação pode acontecer o mesmo através dos pensamentos que indagam: ‘valeu a pena a opção que fiz’?
 O valor da perseverança
Como são importantes aqueles personagens em nossas comunidades que perseveram. São Bonifácio, no século VIII, escreve em uma de suas cartas: “gostaria de abandonar inteiramente o leme da Igreja, se encontrasse igual precedente nos Padres ou na Sagrada Escritura”, o santo não se encoraja a fugir da barca, pela força do testemunho daqueles que perseveraram, assim, os consagrados precisam compreender o excelente valor da perseverança e olhar com veneração para os perseverantes, especialmente os corajosos fundadores e co-fundadores fiéis, e encontrar ali motivações para perseverar.
Se na cultura atual, homens e mulheres ao atingirem os quarenta anos sentem-se desobrigados a continuarem constituindo uma família, abandonam o “ninho” e se separam. Na consagração de vida esta tentação aparece com uma roupagem bem parecida, ou até idêntica. Vamos conhecer duas das tentações mais comuns:
1. Podem surgir pensamentos do tipo: ‘vou deixar que os novos (que estão chegando ) continuem esta missão, eu já fiz minha parte’‘eu estou ultrapassado’, ‘eu estou cansado’, ‘Deus não precisa mais de mim…’ esquecendo que o chamado de Deus tem data marcada para começar, mas não tem data marcada para encerrar.
2. A tentação de organizar coisas fora das necessidades reais do carisma; normalmente o consagrado já possui um certo equilíbrio e maturidade e cai na tentação da autonomia, sem partilhar com as autoridades atendendo somente uma necessidade pessoal de sair da rotina, sem compreender um apelo interior para uma maior maturidade e mais profunda fecundidade.
Mais uma vez é hora da sabedoria hábil de um bom formador pessoal ou um diretor espiritual. Todo consagrado necessita de um olhar externo e divino, o olhar de Deus não pode faltar em nossos carismas. A Igreja anseia por homens e mulheres que sejam conhecedores dos caminhos humanos. Pessoas consagradas que saibam fazer memória juntamente com o vocacionado das promessas do Senhor, e que, através do diálogo aberto e verdadeiro, da oração e do discernimento dos espíritos possam mais uma vez ajudar a atravessar este oportuno vale de escuridão em busca de um novo e consciente SIM a Deus.
Acesse o 2º dia no link: http://comunidadeoasis.org.br/crise-vocacional-ou-momento-providencial-3/
Confira na próxima postagem a sequência do título: Crise vocacional ou momento providencial: A proximidade da aposentadoria, da morte, ou ainda, incapacidade física.