Carisma é um dom dado, em vista do bem comum (1 Cor 12,7). Este dom é dado a “um” ou a “alguns” em particular, não a todos do mesmo modo, coisa que o destinge da graça santificante, das virtudes teológicas e dos sacramentos, que são idênticos e comum a todos.

Carisma é sempre uma manifestação do sobrenatural”, o que o diferencia dos talentos naturais ou transformados, o carisma é recebido através de uma ação livre e soberana de Deus, ligada ao Batismo. Por isso os talentos são muitas vezes herdados, os carismas nunca.

Os exercícios dos carismas

Existe uma sentença de Jesus, que deve soar como um sinal de alarme para os carismáticos: Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome, não expulsamos demônios em seu nome? Então lhes confessarei: nunca vos conheci, afastai-vos de mim, vós que praticais o mal!” (Mt 7,22-23).

Três carismas diferentes são mencionados neste trecho, a exortação de Jesus. Que devemos fazer para que o carisma que existe em nós edifique a Igreja, sirva para o bem comum, como é de sua natureza e, não se transforme, pelo contrário, em ameaça a unidade do corpo de Cristo e em perigo para a nossa própria alma?

A nossa resposta está na relação entre carisma e santidade. É verdade que o carisma não é dado por causa da santidade, ou em vista da santidade pessoal, mas é verdade também que ele não se mantém sadio, a não ser que repouse no terreno da santidade pessoal.

Tal como não se pode manter acesa uma lâmpada sem óleo, assim também é impossível manter acesa a luz dos carismas sem uma atitude capaz de nutrir o bem com comportamentos adequados, com palavras, maneiras, costumes, conceitos, pensamentos convenientes. Todo o carisma espiritual, com efeito, tem necessidade de uma atitude que lhe seja conatural, que sem cessar derrame nele, como óleo, a matéria espiritual para poder permanecer no âmbito daquele que o recebe em posse. (Máximo o Confessor).

Vejamos algumas atitudes ou virtudes que contribuem para manter vivo o carisma

Obediência
Duas coisas governam a vida de Jesus: o mandato recebido do Pai de uma vez para sempre, no momento em que o enviou ao mundo; e a inspiração do Espírito recebida a cada momento. Sua autoridade brota simultaneamente dessas duas fontes. Quando é tempo de obediência ao mandamento do Pai (e de obediência até a morte!), Jesus não utiliza os carismas, não chama as doze legiões de anjos, não fulmina os adversários com o próprio dedo de Deus, que lhe permitia expulsar os demônios, mas se diz: Se o grão de trigo, caindo na terra não morrer…” (Jo 12,24)

Humildade
A humildade protege os carismas. Os carismas são fagulhas da própria fogueira de Deus, que Deus confiou para a Igreja.
O fato de termos dons diferentes significa que nem todos têm todos os dons: nem todos são apóstolos ou profetas e assim por diante, cada um de nós não é tudo, mas apenas e radicalmente um fragmento. Só Deus é tudo, só a Igreja possui a plenitude do Espírito (Ef 1,23). Fere-se assim, a raiz, a autossuficiência. “A cada um diz São Paulo é dada à manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1 Cor 12,7). Cada um é como um detalhe num imenso quadro.

Caridade
Santo Agostinho a respeito da caridade:
Se amas, o que possui é pouco. Se, de fato amas a unidade, tudo aquilo que nela é possuído por alguém, também tu o possuis! Expulsa a inveja, e será teu aquilo que é meu, e se eu expulso a inveja, é meu aquilo que possuis! A inveja separa a caridade une.”
Pela caridade você possui, sem perigo, aquilo que o outro possui com perigo. A caridade multiplica verdadeiramente os carismas; faz do carisma de um o carisma de todos. A caridade jamais acabará. (1 Cor 13, 4-8).