Jesus tomou sobre os seus ombros o peso da culpa de toda a humanidade; levou-a pelo Jordão abaixo. Ele inaugura-o com a antecipação da cruz. Ele é, por assim dizer, o verdadeiro Jonas, que disse para os marinheiros: “Pegai em mim e atirai-me ao mar” (Jn 1, 12). Todo o significado do batismo de Jesus, o seu levar ‘toda a justiça’, só na cruz é que se revela: o batismo é a aceitação da morte pelos pecados da humanidade, e a voz do batismo – ‘”Este é o meu filho bem-amado” (Mc 3, 17) – é já um chamado de atenção para a ressurreição. Assim se compreende também como na própria linguagem de Jesus a palavra ‘batismo’ aparece como designação da sua morte (Mc 10, 38; Lc 12, 50).
Era conveniente que Cristo fosse batizado (…) porque, como diz Ambrósio: “O Senhor foi batizado não porque quisesse ser purificado, mas querendo purificar as águas, para que limpas pela carne de Cristo, que não conheceu o pecado, tivessem a força do batismo”. E Crisóstomo acrescenta: “Para deixá-las santificadas para os que haveriam de ser batizados depois.”
Ao invés de Ele ser purificado pelas águas, elas foram santificadas por Ele. Assim como, na Eucaristia, ao invés de o alimento se unir ao nosso corpo, somos nós quem nos unimos ao alimento, que é Cristo. No Seu Batismo, não é Ele quem é purificado, mas as águas que O batizam.
“Ninguém pode entrar no reino de Deus, a não ser que nasça da água e do Espírito Santo” (Jo 3,5 ). É nesse sentido também que Elias dividiu as águas do Jordão, antes de ser arrebatado ao céu numa carruagem de fogo, pois o fogo do Espírito Santo abre a entrada do céu aos que atravessam as águas do batismo. Por isso convinha que Cristo fosse batizado no Jordão.
É pelo batismo de Cristo, especialmente, que se abre para nós a entrada no Reino dos Céus, que tinha sido fechada pelo pecado ao primeiro homem. Por isso, os céus se abriram depois do batismo de Cristo, para mostrar que o caminho do Céu está aberto para os batizados. E a voz do Pai é ouvida, derramando sobre Ele toda a Sua afeição.
Quando fomos batizados, os céus se abriram para nós, recebemos o dom de sermos filhos de Deus, mas não podemos descuidar da oração para permanecer vivendo com filhos, cheios do Espírito Santo. Sem a escuta de Deus, estaremos indefesos contra os três inimigos da alma: a carne, o mundo e o diabo. Por isso, ao recebermos este Sacramento, além de professarmos a fé, somos chamados a renunciar a Satanás, às suas obras e seduções.
Fonte: Homilia Padre Paulo Ricardo