Através da Carta Apostólica INDE A PRIMIS podemos conhecer o belíssimo testemunho do Papa João XXIII sobre o Preciosíssimo Sangue de Cristo:
Desde os primeiros meses do nosso serviço pontifício aconteceu-nos muitas vezes – e não raro a palavra foi precursora ansiosa e inocente do nosso próprio sentir – convidar os fiéis, em matéria de devoção viva e cotidiana, a se volverem com ardente fervor para a expressão divina da misericórdia do Senhor sobre as almas individuais, sobre a sua Igreja santa e sobre o mundo inteiro, dos quais todos, Jesus continua sendo o Redentor e o Salvador. Queremos dizer a devoção ao Preciosíssimo Sangue.
Esta devoção foi-nos instilada no próprio ambiente doméstico em que floresceu a nossa infância, e sempre recordamos com viva emoção a recitação das ladainhas do Preciosíssimo Sangue que os nossos velhos pais faziam no mês de julho.
Lembrados da salutar exortação do Apóstolo:
“Estai atentos a vós mesmos e a todo o rebanho: nele o Espírito Santo vos constituiu guardiães, para apascentardes a Igreja de Deus, que ele adquiriu para si pelo sangue de seu próprio Filho” (At 20,28), cremos, ó Veneráveis Irmãos, que entre as solicitudes do nosso universal ministério pastoral, depois da vigilância sobre a sã doutrina deve ter um lugar privilegiado aquela que diz respeito ao reto desenvolvimento e ao incremento da piedade religiosa, nas manifestações do culto litúrgico e privado. Parece-nos, portanto, particularmente oportuno chamar a atenção dos nossos diletos filhos para o nexo indissolúvel que deve unir as duas devoções, já tão difundidas no seio do povo cristão, isto é, o Ss. Nome de Jesus e o seu Sacratíssimo Coração, aquela que pretende honrar o Sangue Preciosíssimo do Verbo encarnado, “derramado por muitos em remissão dos pecados” (cf. Mt 26,28).
“Único mediador entre Deus e os homens”
Com efeito, se é de suma importância que entre o Credo Católico e a ação litúrgica da Igreja reine uma salutar harmonia, visto que “a norma do acreditar define a norma de rezar”, e nunca sejam consentidas formas de culto que não brotem das fontes puríssimas da verdadeira fé, é justo, outrossim, que floresça harmonia semelhante entre as várias devoções, de modo que não haja contraste ou dissociação entre as que são consideradas como fundamentais e mais santificantes, e que, ao mesmo tempo, sobre as devoções pessoais e secundárias tenham o primado na estima e na prática aquelas que melhor realizam a economia da salvação universal operada pelo “único mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus homem, aquele que deu a si mesmo em resgate por todos” (1Tm 2,5-6). Movendo-se nesta atmosfera de reta fé e de sã piedade, os féis estão seguros de sentir com a Igreja, ou seja de viverem em comunhão de oração e de caridade com Jesus Cristo, fundador e sumo sacerdote dessa sublime religião que dele recebe, com o nome, toda a sua dignidade e valor.
Mas também a devoção ao Preciosíssimo Sangue de Jesus, da qual foi propagador admirável no século passado o sacerdote romano S. Gaspar del Bufalo, teve o merecido consentimento e o favor desta Sé Apostólica.
“Uma só gota pode salvar o mundo todo de toda culpa“
Por isto, ao aproximar-se a festa e o mês dedicados ao culto do Sangue de Cristo, preço do nosso resgate, penhor de salvação e de vida eterna, façam-na os fiéis objeto de meditações mais devotas e de comunhões sacramentais mais frequentes. Iluminados pelos salutares ensinamentos que promanam dos Livros sagrados e da doutrina dos padres e doutores da Igreja, reflitam no valor superabundante, infinito desse Sangue verdadeiramente preciosíssimo, do qual “uma só gota pode salvar o mundo todo de toda culpa“, como canta a Igreja com o Angélico Doutor, e como sabiamente confirmou o nosso predecessor Clemente VI.
Fonte: Parte da Carta Apostílica INDE A PRIMIS do Papa João XXIII, 30 de junho de 1960, vigília da Festa do Preciosíssimo Sangue de N. S. J. C