Estamos no terceiro domingo de Quaresma, que nos apresenta o tema fundamental deste “tempo forte” do ano litúrgico:  o convite à conversão da nossa vida e a conceber obras dignas de penitência. Jesus, como ouvimos, recorda dois episódios de crônica:  uma repressão brutal da polícia romana dentro do templo (Lc 13, 1) e a tragédia dos dezoito mortos devido ao desabamento da torre de Siloé (v. 4). O povo interpreta estes acontecimentos como uma punição divina pelos pecados daquelas vítimas e, considerando-se justo, pensa que não está sujeito a estes desastres, acreditando que nada tem para converter na própria vida. Mas Jesus denuncia esta atitude como uma ilusão:  “Julgais que estes Galileus eram maiores pecadores que todos os outros galileus, por terem assim sofrido? Não, digo-vos Eu; mas se não vos arrependerdes, perecerão todos igualmente” (vv. 2-3). E convida a refletir sobre aqueles fatos, para um maior compromisso no caminho de conversão, porque é precisamente o fechamento ao Senhor, o não percorrer o caminho da conversão de si mesmo, que leva à morte, à morte da alma. Na Quaresma, cada um de nós é convidado por Deus a fazer uma mudança na própria existência pensando e vivendo segundo o Evangelho, corrigindo algo no próprio modo de rezar, de agir, de trabalhar e nas relações com os outros. Jesus dirige-nos este apelo não com uma severidade finalizada para si mesma, mas precisamente porque se preocupa com o nosso bem, com a nossa felicidade e salvação. Por nosso lado, devemos responder-lhe com um sincero esforço interior, pedindo-lhe que nos faça compreender sobretudo em que pontos nos devemos converter.
A conclusão do trecho evangélico retoma a perspectiva da misericórdia, mostrando a necessidade e a urgência de voltar para Deus, de renovar a vida segundo Deus. Referindo-se a um costume do seu tempo, Jesus apresenta a parábola de uma figueira plantada numa vinha; esta figueira, contudo, é estéril, não dá frutos (cf. Lc 13, 6-9). O diálogo que se desenvolve entre o dono e o vinhateiro, manifesta, por um lado, a misericórdia de Deus, que é paciente e deixa ao homem, a todos nós, um tempo para a conversão; e, por outro, a necessidade de iniciar imediatamente a mudança interior e exterior da vida para não perder as ocasiões que a misericórdia de Deus nos oferece para superar a nossa preguiça espiritual e corresponder ao amor de Deus com o nosso amor filial.
Também São Paulo, no trecho que ouvimos, nos exorta a não nos iludirmos:  não é suficiente ter sido batizados e ser alimentados na mesa eucarística, se não vivermos como cristãos e não estivermos atentos aos sinais do Senhor (1Cor 10, 1-4).
No Gólgota Deus, que durante a noite da fuga do Egito se revelou como aquele que liberta da escravidão, revela-se como Aquele que abraça cada homem com o poder salvífico da Cruz e da Ressurreição e o liberta do pecado e da morte, o aceita no abraço do Seu amor.
Permaneçamos na contemplação deste mistério do nome de Deus para compreender melhor o mistério da Quaresma, e viver como indivíduos e como comunidade em conversão permanente, para sermos epifania constante no mundo, testemunho do Deus vivo, que liberta e salva por amor. Amém.
Fonte: Parte da homilia do Papa Emérito Bento XVI durante a Visita Pastoral à Paróquia Romana de São João da Cruz. Domingo, 07 de Março de 2010.