São estas as palavras — citadas pelo evangelista Lucas — com as quais o arcanjo Gabriel se dirige a Maria.

No  Livro de Sofonias  encontramos esta expressão: “Alegra-te, filha de Sião… O rei de Israel, que é o Senhor, está no meio de ti… O Senhor teu Deus está no meio de ti como Salvador poderoso” (3, 14-17).  Este júbilo prefigura esta hora, da vinda de Cristo na carne, no seio virginal de Maria , a filha de Sião! O júbilo provém da graça, ou seja, deriva da comunhão com Deus, do fato de manter um vínculo tão vital com Ele, a ponto de ser morada do Espírito Santo, totalmente plasmada pela obra de Deus.

Maria é a criatura que de modo singular abriu totalmente a porta ao seu Criador, colocando-se nas suas mãos sem quaisquer limites. Ela vive inteiramente  da  e  na  relação com o Senhor; põe-se em atitude de escuta, atenta a captar os sinais de Deus no caminho do seu povo; está inserida numa história de fé e de esperança nas promessas de Deus, que constitui o tecido da sua existência. E submete-se de maneira livre à palavra recebida, à vontade divina na obediência da fé.A relação do ser humano com Deus não cancela a distância entre Criador e criatura, não elimina aquilo que o apóstolo Paulo afirma perante as profundezas da sabedoria de Deus: “Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os seus caminhos!” (Rm  11, 33). Mas precisamente aquele que — como Maria — está aberto de modo total a Deus, consegue aceitar a vontade divina, ainda que seja misteriosa, embora muitas vezes não corresponda à própria vontade e seja uma espada que trespassa a alma, como profeticamente o velho Simeão dirá a Maria no momento em que Jesus é apresentado no Templo (cf.  Lc  2, 35). O caminho de fé de Abraão abrange o momento de alegria pelo dom do filho Isaac, mas inclusive o momento da obscuridade, quando deve subir ao monte Moriá, Deus pede-lhe que sacrifique o filho que lhe tinha acabado de doar. No monte, o anjo ordena-lhe: “Não estendas a tua mão sobre o menino, e não lhe faças nada; agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único filho” (Gn  22, 12); a confiança plena de Abraão no Deus fiel às promessas não esmorece nem sequer quando a sua palavra é misteriosa e difícil, quase impossível, de aceitar. É assim que acontece para Maria, pois a sua fé vive a alegria da Anunciação, mas passa inclusive através da obscuridade da crucifixão do seu Filho, para poder chegar até à luz da Ressurreição.

Em 25 de março, quando celebramos a festa da anunciação, pelo mistério que nos envolve: entremos pela fé, pelos braços de Maria em seu ventre, como embrião, atualizando nossa concepção, junto a Jesus que está ali e passemos com Ele os nove meses de gestação. Pela fé, é possível sermos tomados do ventre de nossa mãe biológica e introduzidos nas águas ternas do Espírito Santo, no ventre de Maria, envolvendo nossa história no amor e nos carinhos de Jesus.

O anjo do Senhor anunciou a Maria. E Ela concebeu do Espírito Santo.
Eis, aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a Tua Palavra.
E o Verbo se fez carne. E habitou entre nós!

Fonte: Parte do texto “Virgem Maria, Ícone da fé obediente”, do Papa Bento XVI