No final do ano passado passei pela experiência de quebrar um dos meus dentes da parte superior. Justamente aquele dente era de porcelana, pois há um tempo atrás havia perdido o dente correspondente que era natural. Aconteceu então que como era perto do Natal os laboratórios odontológicos não estavam mais trabalhando e para surpresa minha a dentista informou que a porcelana quando é quebrada não tem como consertá-la, pois nenhum outro material se liga a ela.
Esse fato me fez recordar daquele sonho do rei, que o profeta Daniel interpretou, onde os pés de uma estátua eram formados de barro e ferro, portanto, não se ligavam um ao outro. Sobre esse sonho o profeta Daniel explicou ao rei que haveria ligações por vias de casamentos, mas sem coesão entre as partes, assim como o ferro não faz liga com o barro (Dn 2, 31-45). Esse discernimento do profeta Daniel se trata de um princípio eterno, onde foi esclarecido que haveria casamentos sem haver a coesão, a fusão entre as partes. Como católicos entendemos o que isso significa. É o sacramento do matrimônio entre o homem e a mulher que confere o “poder”, a autorização podemos dizer, da coesão entre as partes, da ligação intima de corpo e alma entre os cônjuges. A Palavra diz: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a constroem”(Sl 126,1). Se o Senhor não abençoar a união do homem e da mulher através do sacramento do matrimônio, em vão batalham o casal. Há um sofrimento silencioso e indescritível entre o casal que vive a segunda união, e a maior dor consiste é de não sentir-se pertença um do outro.
O sofrimento dos casais que vivem juntos sem o vínculo do matrimônio tocou o coração, do Papa João Paulo II e do Papa Bento XVI, que se debruçaram diante desta realidade, para oferecer à eles a resposta que vem do Céu, a verdadeira resposta que conduz a salvação. Os casais que vivem essa situação podem iniciar suas buscas das respostas que a Igreja oferece, através do Catecismo da Igreja Católica e da Encíclica Familiares consorte de São João Paulo II e também através de um bom sacerdote que ame acolhe as verdades desses documentos.
Os casais que vivem a segunda união podem se depararem com duas categorias de pastorais: a pastoral que oferece facilidade, mas sem a verdade, e a pastoral da porta estreita que oferece a verdade com sua respectiva Cruz que salva.
João Paulo II na Carta Encíclica Esplendor da verdade rejeitou as soluções chamadas «pastorais», que se colocam em contraste com as declarações do Magistério da Igreja (cf. ibid. 56).
O Papa Bento XVI em 2011 ensinou para nós católicos qual é a pastoral mais urgente da Igreja, que é a Pastoral da verdade; disse ele: “Uma pastoral que queira verdadeiramente ajudar a pessoa deve sempre fundar-se na verdade. A pastoral da verdade pode desagradar e ser incomoda. Mas é a via para a cura, para a paz, para a liberdade interior”1.
Cleonice M. Kamer
1 https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19980101_ratzinger-comm-divorced_po.html