Continuando a reflexão sobre a Paixão de Cristo a partir dos estudos do Santo Sudário…

As três quedas

“Jesus cai pela primeira vez …. Jesus cai pela segunda vez …. Jesus cai pela terceira vez” (Via Sacra, III, VII e IX Estações)

Os Evangelhos não falam a respeito das três quedas que Nosso Senhor sofreu no caminho do Calvário, mas conta-o a Tradição. Por isso estão integradas à Via Sacra.

Essas quedas, “o Sudário as constata claramente. O Homem do Sudário apresenta os joelhos feridos por violentas quedas sobre terreno pedregoso, estando o joelho esquerdo sujo de terra misturada com sangue. As escoriações do nariz também estão sujas de terra, sinal de que o rosto de Jesus bateu violentamente contra o solo. …. Impossibilitado de amortecer o tombo com as mãos, amarradas ao patíbulo que levava às costas, a cabeça de Jesus iria fatalmente bater com força contra o solo pedregoso; o patíbulo escorregaria em direção à cabeça, batendo fortemente contra a nuca, coberta com os espinhos. É fácil compreender por que a nuca aparece tão horrivelmente machucada na imagem do Sudário”.

A Crucifixão

“Ali O crucificaram, e com Ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio” (Jo 19, 18).

Primeiro O despiram de suas vestes. Isso deve ter provocado uma dor terrível, pois o tecido da túnica secara sobre as feridas do corpo divino, colando-se a ele. Às vezes, num caso semelhante, para retirar-se um tecido colado a um corpo muito chagado, é necessário aplicar-se anestesia geral. “Mas como aquela dor pungente e atroz não acarreta a síncope? É porque, do princípio ao fim, Ele [Jesus] domina toda a sua paixão e a dirige”.

Depois estenderam-no no chão, puxando seus braços para os pregar no patíbulo da cruz.

Onde foram fincados os cravos? Não na palma da mão, segundo a iconografia comum. Estudos de especialistas demonstram que essa região não tem estrutura suficiente para suportar o peso de um corpo adulto. Mas entre o punho e a mão, na região chamada em anatomia de “espaço de Destot”. “Neste espaço, um cravo penetra com a maior facilidade, sem romper nenhum osso, e fica firmemente seguro. …. Examinando-se o Sudário, vamos ver que o grande coágulo de sangue correspondente à chaga do braço está situado exatamente nessa região”.

Ao penetrar aí, entre a palma da mão e o punho, o cravo provocou “uma dor inenarrável, fulgurante, que se espalhou por seus dedos, subiu como uma língua de fogo até a espádua e prorrompeu no cérebro. Bem sabemos que a dor mais insuportável que um homem possa experimentar é a do ferimento de um dos grandes troncos nervosos. Jesus experimentará isto ainda durante três horas”.

Depois o sentenciado tinha de levantar-se, pregado ao patíbulo da cruz. O carrasco e um ajudante erguiam o patíbulo, para o encaixarem na stipes, ou poste vertical da cruz. Isso era feito com indescritíveis dores para o crucificado.

Estando Jesus suspenso no ar somente pelos cravos das mãos, os carrascos passaram a prender seus pés ao madeiro da cruz. Trespassaram o pé esquerdo, fazendo com que a ponta do cravo surgisse na planta do pé; colocaram-no depois sobre o peito do pé direito, fazendo com que o cravo também o trespassasse, fixando-os assim, um sobre o outro, no madeiro da cruz.

“A suspensão pelas mãos provoca nos crucificados um conjunto de cãibras, de contrações, que se vão generalizando até o que chamamos de `tetania’. Atinge ela, por fim, os músculos inspiradores, impedindo a expiração; os supliciados, não mais podendo esvaziar os pulmões, morrem por asfixia”. Para apressar a morte dos condenados, quebravam-lhes os joelhos, impedindo assim o soerguimento que lhes permitiria respirar.”

A morte

“Jesus deu então um grande brado e disse: `Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito’. E dizendo isto, expirou” (Lc 23, 46).

“Observando as marcas do Sudário vamos ver que, na imagem frontal, o tórax aparece com a sua musculatura contraída num espasmo, o diafragma elevado, visível pelo afundamento do abdômen. São imagens típicas de uma tetania causada pela asfixia e ânsia respiratória”.

“Jamais poderia acreditar nem sequer imaginar que a crucifixão fosse tão atroz e cruel como nos permite entender o Santo Sudário com sua muda, porém eloquentíssima linguagem …. A crucificação excede em crueldade tudo o que podemos imaginar”.

A lançada de Longinus

“Um dos soldados abriu-Lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água” (Jo 19, 34).

No Santo Sudário “a ferida da qual escorre este sangue é claramente visível e foi produzida por um instrumento de ponta e corte, com duas aletas ou rebordes em suas extremidades; daí sua forma elíptica”.

“A chaga do lado direito do supliciado tem uma forma elíptica do mesmo diâmetro de 4,4 cm por 1,4 cm, diâmetro de uma lança romana. Segundo especialistas da história romana, o fato de estar no lado direito explicar-se-ia pelo fato de os romanos darem esse golpe contra um inimigo que protege seu coração com o escudo”.

“Na parte superior da imagem sanguínea se distingue nitidamente, tanto no original [do Sudário] quanto nas fotografias, uma mancha oval com o eixo maior um tanto oblíquo de dentro para fora e de baixo para cima, que dá, nitidamente, a impressão da chaga do lado de onde saiu este sangue. …. Notemos de passagem que a relíquia do ferro da lança que se encontra no Vaticano tem 45 mm em sua parte mais larga. As chagas são sempre mais estreitas do que os agentes perfurantes, por causa da elasticidade da pele”.

O Sepultamento

“Tomaram o corpo de Jesus e o envolveram em panos com os aromas, como os judeus costumam sepultar” (Jo 19, 40).

São João narra em seu Evangelho que, depois que Nosso Senhor expirou entre os dois ladrões, “José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus, mas ocultamente por medo dos judeus, rogou a Pilatos autorização para tirar o corpo de Jesus. Pilatos permitiu” (Id. ib., 38).

Quando os discípulos desceram da cruz o corpo de Jesus, ficaram maravilhados com sua aparência de paz e de uma resignação completa. Isto porque, para Ele, “tudo estava consumado”, quer dizer, sua missão estava cumprida, a finalidade para a qual Ele veio à Terra realizara-se completamente. Nossa Redenção fora feita com todos os sofrimentos de corpo e de alma que ela comportava.

“Realmente é inexplicável que um Homem tão maltratado fisicamente, como aparece diante de nossos olhos o Homem do Sudário, não apresente no rosto sinais de enrugamento, de ódio, de ira impotente, de esgotamento, de perversão moral …. Apenas um super-homem, um homem não apenas inocente, mas o próprio Filho de Deus, de tanta grandeza moral, de tanto domínio de Si, de um coração tão grande que ama, desculpa e perdoa seus próprios carrascos e viscerais inimigos, enquanto eles estavam se cevando de seu sangue …. apenas Jesus Cristo podia apresentar, já morto, um rosto com tanta paz, tanta majestade, tão resignada aceitação da morte, tão serena beleza …. como aparece no Sudário”.

“Nesse rosto nitidamente semita encontra-se, apesar das torturas e das chagas, uma tão serena majestade, que dele ressalta uma impressão inexprimível. Para o compreender um pouco, é necessário recordar que, se nesse corpo a Humanidade acaba de morrer, a Divindade continua sempre presente; com a certeza da ressurreição, aliás, bem próxima”.

O Apóstolo virgem ressalta que os discípulos envolveram o corpo de Jesus “em panos e com aromas, como os judeus costumam sepultar”.

Como era esse costume na época de Nosso Senhor?

Em primeiro lugar, é preciso ressaltar que aqueles que sofriam o suplício da crucifixão (os grandes criminosos) não eram sepultados, mas lançados numa vala comum. Quando os judeus “rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados” das cruzes, visavam eles que Jesus tivesse o mesmo tratamento que os dois malfeitores, isto é, que Lhe partissem as pernas e depois O jogassem na vala comum, para que sua memória desaparecesse para sempre.

Mas as humilhações e sofrimentos a que Se submetera o Homem-Deus para a salvação da humanidade pecadora tinham atingido seu auge e se consumado no sacrifício da cruz. Aproximava-se a hora de sua glorificação. Por isso José de Arimatéia, influente judeu, obteve de Pôncio Pilatos a permissão de retirar Jesus da cruz e dar-Lhe digna sepultura. Para isso adquiriu um sepulcro ainda novo, sem uso, perto do Calvário, que viria a ser a testemunha da ressurreição de Cristo.
Em geral as sepulturas judias eram cavadas na rocha, constando de dois compartimentos: um menor, à entrada, e um subsequente, onde ficava a sepultura propriamente dita. Uma pedra, como a de moinho, era rolada por dois homens, fechando a sepultura.

Retirado o divino corpo do Salvador da cruz por José de Arimatéia, Nicodemos e talvez São João e algum outro discípulo  foi depositado sobre o longo lençol que Lhe serviria de mortalha. São Marcos, em seu Evangelho (15, 46), esclarece que José de Arimatéia, depois de obtida a licença para sepultar Jesus, comprou um pano de linho para envolvê-Lo.

Esse lençol, segundo o costume, era longo e deveria ser dobrado na altura da cabeça sobre o cadáver a ser sepultado. Algumas faixas de tecido serviriam para prender o lençol ao longo do corpo.

Não tiveram tempo para lavar o corpo nem barbear o rosto, como era costume, pois já estava tarde e, com o pôr do sol, começaria o sábado, dia em que não se podia trabalhar; esse ritual, aliás, não se observava com sentenciados. Os discípulos puseram então algumas ervas aromáticas junto ao corpo ainda ensanguentado de Jesus, e O depositaram no sepulcro.

Parecia tudo terminado, mas era exatamente o momento em que tudo começava…

(A 1ª parte está disponível em https://comunidadeoasis.org.br/a-paixao-segundo-o-santo-sudario-1a-parte/)

Fonte: https://lepanto.com.br/catolicismo/ciencia-e-fe/a-paixao-segundo-o-santo-sudario/