Raciocinamos com Santo Afonso: “Se alguém tivesse padecido por um amigo injúrias e maus tratos, e logo soubesse que o amigo, ao ouvir falar do sucedido, não quisesse recordar-se; e, quando o recordassem, dissesse: `Falemos de outra coisa!’, que dor sentiria aquele ao ver o olvido do ingrato! Pelo contrário, que consolo experimentaria ao certificar-se de que o amigo afirma testemunhar-lhe eterna gratidão, e que sempre o recordava falando dele com ternura e soluços! Por isso é que todos os Santos, conhecedores do prazer que proporciona a Jesus Cristo o evocar amiúde sua Paixão, se têm preocupado em meditar quase de contínuo as dores e desprezos que padeceu o amabilíssimo Redentor durante sua vida e especialmente na morte”.
Meditar na Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo foi sempre e continua sendo uma das fontes mais ricas para o progresso espiritual e santificação.
Entretanto, para nós, homens do século XXI, isso se torna cada vez mais difícil, principalmente por nossa tibieza, mas também porque fomos deformados pela “civilização da imagem” – a expressão é de Paulo VI. Deformação essa que nos torna difícil a abstração.
Terá sido para nos amparar nessa fragilidade que a Providência Divina reservou exatamente para nossa época a descoberta do tesouro que se encontra no Santo Sudário de Turim? Pois foi só com o desenvolvimento da ciência e dos mais sofisticados equipamentos modernos que se descobriram as maravilhas nele encerradas, como as marcas da coroa de espinhos, da flagelação, da lançada, e até de sinais que se pode supor terem sido impressos pela ressurreição de Nosso Senhor.
Cientistas que pesquisaram longamente essa sagrada relíquia afirmam que o Santo Sudário é mais completo e minucioso, no narrar a Paixão de Cristo, do que os próprios Evangelhos. E que “nada, em todas as descobertas da `turma do Sudário’, em três anos [de pesquisas e análises], continha uma única informação que contestasse as narrativas dos Evangelhos”. Por isso alguns chegaram a qualificar o Santo Sudário como o “5º Evangelho” ou o “Evangelho para o século XX”.
O eminente católico e competente cirurgião e escritor francês, Dr. Pierre Barbet, ponderou em um de seus livros sobre o Sudário: “Um cirurgião [no nosso caso, qualquer leitor] que já tenha meditado sobre os sofrimentos da Paixão, …. que já se tenha aplicado a reconstituir metodicamente todas as etapas desse martírio de uma noite e de um dia, poderá, melhor que o pregador mais eloquente, melhor que o mais santo dos ascetas (deixando de lado os que disso tiveram diretas visões, e esses se aniquilavam com elas), compadecer, isto é, padecer com os sofrimentos de Cristo”.
É o que vamos fazer, com base em depoimentos de cirurgiões, cientistas e especialistas que analisaram o Sudário, seguindo passo a passo a Paixão de Cristo como nos narram os Evangelhos e a Tradição, e como aparece no Santo Sudário.
Oração no Horto
“Ele [Jesus] entrou em agonia, e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra” (Lc 22, 44).
“Notemos que o único evangelista que relata o fato é um médico [São Lucas], e o faz com a precisão e a concisão de um clínico. A hematidrose [excreção de suor sanguinolento] é fenômeno raro, mas bem descrito. Aparece, segundo o Dr. Le Bec, `em condições completamente especiais: uma grande debilidade física, acompanhada de um abalo moral, seguido de profunda emoção e de grande medo’. …. O medo, o terror e o abalo moral estão aqui no auge. É o que Lucas exprime por `agonia’, que em grego significa luta, ansiedade, angústia. …. Uma vasodilatação intensa de capilares subcutâneos, que se rompem em contato com a base de milhões de glândulas sudoríparas. O sangue se mistura ao suor e se coagula na pele após a exsudação. É esta mistura de suor e de coágulos que se reúne e escorre por todo o corpo em quantidade suficiente para cair por terra”.
O Prof. Giovanni Tamburelli, analisando a foto tridimensional da face da figura do Santo Sudário por meio de um computador, verificou, além de inumeráveis escorrimentos e pequenos coágulos de sangue que o marcam, que parece estar todo borrado de sangue, como deveria ter ficado o rosto de Nosso Senhor no momento da agonia no Horto das Oliveiras.
A bofetada em casa de Anás
“Um dos guardas presentes deu uma bofetada em Jesus, dizendo: ‘É assim que respondes ao sumo sacerdote?’” (Jo 18, 18,22).
Os cientistas, analisando o Sudário, constataram que, no lado direito da face que ali aparece, há uma grande contusão, e a cartilagem do nariz está rompida e desviada para a direita.
Explica o Dr. Judica Cordiglia que a ruptura da cartilagem do nariz e o subsequente desvio nasal que se observam no Sudário se devem a uma pancada infligida por um pedaço de pau curto, cilíndrico, de 4 a 5cm de diâmetro.6 Isso provocaria uma abundante saída de sangue, o que se constata no Sudário pelo fato de o bigode estar impregnado de sangue, que desce do nariz perdendo-se na barba.
Ora, especialistas em linguística opinam que a palavra utilizada por São João para “bofetada” pode ser traduzida por “bastonada”. O que estaria conforme com as conclusões a que chegaram os cientistas que examinaram o Sudário.
Injúrias e maus tratos
“E começaram a saudá-Lo: ‘Salve, rei dos judeus!’ Davam-Lhe na cabeça com uma vara, cuspiam nele e punham-se de joelhos como para homenageá-Lo” (Mc 15, 18-19).
Com os avançados aparelhos modernos, podem-se perceber na figura do Santo Sudário “inchaços em diferentes partes do rosto e um enorme escarro que desce da ponta interna do olho direito até a parte inferior do nariz”. Este “está deformado por uma ruptura da cartilagem dorsal, bem perto de sua inserção no osso nasal, que ficou intato”. Também “nas regiões que circundam os olhos e as sobrancelhas, há chagas e contusões iguais às que produziriam socos ou bastonadas. A sobrancelha direita está claramente inflamada”.
“Sobre o rosto se encontram escoriações um pouco por toda parte, mas sobretudo do lado direito, que está também deformado como se, sob as esfoladuras sangrentas, houvesse também hematomas. As duas arcadas superciliares apresentam aquelas chagas contusas, que tão bem conhecemos, e que se fazem de dentro para fora, sob a influência de um soco ou paulada; os ossos da arcada cortam a pele pelo lado interno”.
“A face direita está notavelmente inchada…. É um inchaço que se estende e aumenta no sulco entre o nariz, a face e os lábios”.
“Portanto, temos diante de nós um rosto que foi profundamente maltratado com golpes de bastão, socos, tapas, bofetadas, cusparadas, puxões na barba”.
Em suma, conclui o professor Giovanni Tamburelli analisando a fotografia tridimensional do Sudário: “O rosto acaba se mostrando coberto de uma angustiante máscara de sangue, à vista da qual parece incrivelmente cruel o sofrimento do Homem do Sudário. É algo perturbador”.
A Flagelação
“Pilatos mandou então flagelar a Jesus” (Jo 19, 1).
“O Sudário nos dá um quadro muito mais completo, preciso e horrendo da flagelação: mais de 120 golpes ternários, infligidos por dois homens fortes, um mais alto que o outro, peritos em seu ofício; um de cada lado do réu, lhe cobrem metodicamente com seus golpes toda a superfície do corpo …. com exceção da parte do peito sobre o coração, sem poupar nenhum espaço”.
Ao longo de todo o corpo, especialmente nas costas, podem ver-se marcas idênticas às que deixaria o instrumento que os romanos utilizavam para flagelar um réu (o flagellum taxillatum, composto de três ramais terminados em pequenas bolas de metal com relevos e unidas entre si por um arame). Esse objeto não era utilizado na Idade Média, e só se conhece em nossos dias depois de ter sido encontrado em escavações arqueológicas. Cada golpe arrancava a pele provocando pequenos escorrimentos de sangue.
Estudando a direção desses escorrimentos e a direção dos golpes, foi possível deduzir a posição encurvada em que Jesus se encontrava sobre uma coluna baixa para a flagelação. O Prof. Pier Luigi Bollone pôde contar mais de 600 contusões e feridas em todo o corpo do Homem do Sudário, e 120 marcas de açoite.
“Os milhões de microscópicas hemorragias intradérmicas, próprias da hematidrose ou suor de sangue, surgem em toda a pele do corpo, que fica assim `toda machucada, dolorida e bastante sensível aos golpes’. Portanto, não se deve estranhar que aqueles brutais açoites tenham aberto e arrancado a pele com efusão de sangue a cada golpe.”
“As chagas da flagelação têm um realismo, uma abundância, uma tal conformidade aos dados arqueológicos, que ficam em notável contraste com as pobres imaginações dos pintores de todos os tempos”.
A coroação de espinhos
“Os soldados teceram de espinhos uma coroa e puseram-lha sobre a cabeça, e cobriram-no com um manto de púrpura” (Jo 19, 2).
No Sudário “a cabeça mostra mais de 50 feridas pequenas e profundas que evidenciam a aplicação de uma coroa de espinhos. As manchas maiores coincidem exatamente com locais onde estariam as veias e artérias reais, quando na Idade Média se desconhecia a circulação do sangue”.
E disso “o Santo Sudário não dá margem a dúvidas. Deixa supor claramente uma coroa em forma de capacete que cobria toda a cabeça do homem, da fronte até a nuca”.
“Nesta região da cabeça, cheia de terminações nervosas e grande quantidade de vasos sanguíneos, a dor produzida pela coroa, carregada na cruz, e portanto cravando-se a cada movimento, certamente era insuportável”.
Nota-se no Sudário, no lado direito da fronte do supliciado, um grosso fluxo de sangue bastante espesso na forma do número “3”. “Sabe-se que nesta região, em muitas pessoas, existe uma veia bastante calibrosa e que, aos grandes esforços, se torna bastante dilatada. Um dos espinhos terá perfurado esta veia e estudos geométricos e anatômicos confirmam esta assertiva causando um sangramento constante, mesmo após a retirada do objeto que produziu o ferimento”.
“As hemorragias da coroa de espinhos e os coágulos por elas formados são de uma veracidade inimaginável”, impossível de serem concebidas por qualquer artista que não o divino.
Fonte: https://lepanto.com.br/catolicismo/ciencia-e-fe/a-paixao-segundo-o-santo-sudario/