A pessoa entra em uma vida comunitária com tudo que tem e é. Ao iniciar um caminho em uma comunidade não trazemos somente objetos de uso pessoal, roupas e calçados, mas, cada um traz sua história pessoal, a educação que recebeu de seus pais, sua cultura, sua personalidade e individualidade, seus medos, traumas e pecados, enfim, traz mais coisas invisíveis do que visíveis. Popularmente se diria: “cada um traz consigo os costumes de sua tribo”.
Logo que o caminho vocacional é iniciado, normalmente, o candidato é muito corajoso e está disposto a despojar-se de tudo, a dar a vida, a morrer por Jesus, este momento é muito importante, chama-se: força do chamado,trata-se de um dom de Deus para que a pessoa tenha força para dar o primeiro passo. O vocacionado que chega sem entusiasmo, cansado, sem vontade, não permanece.
O impulso interior do começo do caminho vocacional gradativamente vai desaparecendo e dando lugar ao caminho seguro da formação pessoal. O entusiasmo não desaparece, mas amadurece e começa o tempo de crescer e decidir. O Papa Emérito Bento XVI dizia: “não tenhais medo de tomar decisões definitivas”, mas para isso, é preciso deixar-se formar por Deus.
A preocupação do cristão moderno, como de todos os séculos cristãos anteriores, deve ser aquela de chegar realmente a ser adulto na fé, para não chegar a ser como dizia São Paulo, “…como crianças ao sabor das ondas, agitadas por qualquer sopro de doutrinas…” (Ef 4,14).
É através da formação pessoal que a pessoa poderá amadurecer. É também a partir daí que a parte inicialmente invisível do vocacionado vem à tona, e ele começa a colocar em prática tudo que aprendeu na infância e na adolescência para alcançar suas metas pessoais. O formador pessoal tem aqui a missão de escutar, dialogar e orar para que Deus venha equilibrar a área humana, espiritual e emocional do vocacionado.
Os pais, para o vocacionado, mudaram de rosto, tornam-se os formadores e fundadores. Cada pessoa tem a tendência de buscar ser valorizado, elogiado, obter privilégios, poupado, etc… Estas ‘buscas’ certamente já foram desenvolvidas na infância, quando a mãe permanecia em casa, ou deixava ficar em casa e não ir à escola se a criança ficasse doente. Por isso, algumas vezes o ‘ficar doente’ expressa uma carência.
Especialmente quando os pais não exigem nada da criança e deixam-se inibir com seus gritos, mais tarde essa criança terá dificuldade de aceitar a obediência, a pobreza e a castidade. A rebeldia virá à tona, vai ‘espernear’ e irar-se com a intenção de exercer na comunidade o mesmo domínio que conseguia exercer  na casa dos pais.
Alguns vocacionados saíram da infância tão sem têmpera que não suportam a menor das exigências, alguns somente estão dispostos para os momentos espirituais, outros somente para os momentos fraternos, outros só buscam o descanso. Existem também os vocacionados que intuem que se tornando amigo do formador o caminho ficará mais fácil, engano, formação não tem nada a ver com amizade, é saudável que exista alguma distância, assim, ambas as partes se tornam mais livres para escutarem e realizarem a vontade de Deus.
A formação para Deus deve começar na Infância, a criança necessita de modelos válidos, tais como: vida dos santos, presença paterna e materna equilibrada e conviver com pessoas virtuosas e decididas. O fato de a pessoa ser uma criança, não significa que ela possa ficar totalmente alheia às coisas de Deus e totalmente livre para as coisas do mundo. É na infância que começa a educação cristã.
Vale dizer ainda que cada pessoa é única, haverão uns mais equilibrados, outros mais carentes, outros totalmente sem autoestima. Quem forma é Deus, Ele é o divino oleiro que forma o vaso dos piores barros, coloquemos nossa formação pessoal nas mãos de Deus e nas mediações humanas dos nossos formadores pessoais e fundadores.